Manaus, 29/03/2024

Amazonas

Após pedir por cesárea, mulher que teve parto normal, morre em maternidade de Manaus

Após pedir por cesárea, mulher que teve parto normal, morre em maternidade de Manaus
29/06/2021 21h10

Mãe de quatro filhos, Josiete Silva Paz, 33 anos, reclamava que estava sem forças e pedia insistentemente para que a médica fizesse a cesariana, porque ela não iria resistir ao parto normal.

“A bebê foi praticamente puxada a força de dentro dela. Ela não estava bem, foi aplicado vários tipos de medicação nela. Ela estava sangrando muito e implorava o tempo todo pra que alguém fizesse algo, porque ela não estava aguentando. A minha filha pesava mais de 4 quilos e a Josi não tinha passagem para um parto vaginal, mesmo assim os médicos forçaram a minha mulher. Eu sabia que eu ia perder ela” relata ainda abalado, Cristiano David, marido de Josiete.

Josiete deu entrada na Maternidade Dona Nazira Daou, na madrugada do último Domingo 27 e morreu no mesmo dia às 12:50 horas. Na certidão de óbito é possível encontrar quatro causas para a morte de Josiete: Coagulação Intra Vascular, Choque Hipovolêmico, Antonia Uterina e Diabetes. Uma resposta para o marido, que alega não ter tido nenhuma explicação médica para a morte de Josiete.

“A minha mulher estava sangrando muito, mesmo antes do parto. Ela pedia ajuda o tempo todo. Mas eles diziam que era normal. Até que depois de pedirmos muito, após o parto, médica veio e falou que iriam transferir ela para uma ambulância de UTI e que iriam fazer uma transfusão de sangue. Mas em nenhum momento a médica veio falar comigo para me explicar nada. O único que falou comigo foi o anestesista, que perguntou se eu tinha fé e disse pra eu orar que ele ia dar uma anestesia geral na Josi. A minha mulher morreu e mesmo após a morte dela, nenhum médico veio falar comigo, afirma Cristiano.
O marido conta que Josiete sofria de diabetes gestacional e que no período da gravidez havia passado por um procedimento cirúrgico para a retirada de um nódulo na mama.

Em vídeos postado por ela na internet, e em conversas com a cunhada por um aplicativo, é possível ver que a mulher se aplica insulina e fala sobre a sua rotina. “A princípio a Josi queria ter parto normal, por conta da recuperação que seria mais rápida, mas eu sempre falei pra ela que a questão não era ela querer, mas sim a situação da saúde dela. Antes de ir pra Nazira, ela havia estado em outra maternidade, mas que ela estaria indo pra Nazira para ter o bebê, porque eles haviam feito todo o acompanhamento da gravidez dela e ela dizia que era de risco, então preferia ir pra lá porque eles dariam o suporte que ela precisava. A Josi se cuidava, todos dias se aplicava a insulina e acreditava que estaria segura tendo o bebê na maternidade que acompanhou a gestação dela. Quando eu liguei, ela me falou que o neném estava tendo algumas complicações e que a médica havia dito que se fosse o caso, ela ia fazer uma cesariana, mas ela queria que a Josi tentasse um parto normal”, relata Lilian Raquel, cunhada de Josiete.

O Médico Thiago Gester, afirma que quando atendia na Rede Pública de Manaus, o parto vaginal era priorizado por motivos que trazem benefícios para o bebê e para a paciente. “A priori, pelo menos aqui em Manaus, é parto normal. Melhor via de parto, risco de infecção hospitalar é quase zero, recuperação muito melhor, menos dores, menos traumas. É indiscutível que chegou na maternidade, consequentemente é via de parto vaginal, é o normal. Já pensou, todo mundo que quiser cesariana fazer fila pra cesariana, porque ninguém quer sentir dor. Aí o sistema realmente iria quebrar. Não teria condição. Então o desejo da mulher querer cesárea na Rede Pública é muito delicado, a não ser quando realmente tem indicação absoluta de cesariana. Tem situações que você ver que não tem como ser parto normal. Coloca na cesariana e pronto, é indiscutível”.

A Maternidade Dona Nazira Daou possui o selo de qualidade da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), uma iniciativa da UNICEF junto com a OMS que tem o objetivo de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e à saúde integral da criança e da mulher, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, Cristiano alega que houve negligência e descaso com a vida de Josiete e do bebê. “A diretora do hospital me procurou, que a médica colocou a culpa no maqueiro, dizendo que foi culpa foi do macaqueiro, sendo que eu estava lá e vi tudo o que aconteceu. Por várias vezes eu pedi para o médico ver o que a minha esposa tinha, fazer alguma coisa, entendeu? Eu estava pedindo toda hora, por favor, pra ele fazer alguma coisa, que ela não estava se sentindo bem e ela também estava falando também. Como é que uma pessoa vai morrer de uma hora pra outra? Sendo que a culpa foi da equipe dos médicos que estavam na hora do parto. Isso foi negligência dos médicos”, afirma Cristiano.

Em nota, a maternidade escreveu o seguinte: “A direção da maternidade Dona Nazira Daou esclarece que o falecimento da paciente J.S.P., de 33 anos, está sendo apurada através da abertura de sindicância, com o caso sendo analisado pelas comissões internas da unidade: Comissão de Ética Médica, Comissão de Óbito Materno/Fetal e Comissão de Revisão de Prontuário.
A direção da unidade e a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas lamentam a morte da paciente, sendo o primeiro óbito materno registrado na maternidade em mais de dois anos”.

Josiete deixa quatro filhos; Thierry Luca de 12 anos, Tiely de 8, Vitória de 6, e a pequena Lara de apenas três dias. “As últimas palavras da minha mulher foi dizendo que não queria morrer porque queria cuidar das nossas filhas, então agora eu vou fazer o possível pra dar o bom e o melhor pra elas”, diz o marido.

Cristiano David relata que já procurou o hospital e que estará abrindo um processo para entender o que aconteceu com a esposa.

Mortalidade Materna

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 800 mulheres morrem no mundo, todos os dias, devido a complicações durante ou depois da gestação e do parto. Um outro estudo da ONU revela que uma em cada quatro mortes se deve a complicações previamente existentes, como diabetes, HIV, malária ou obesidade, cujos impactos são agravados pela gravidez.

 

Daniele França

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