Manaus, 20/04/2024

Amazonas

Assistente social diz que sofreu estupro de médico durante consulta em hospital público no AM

Assistente social diz que sofreu estupro de médico durante consulta em hospital público no AM
20/01/2023 13h50

Um médico que atua em Nova Olinda do Norte, interior do Amazonas, foi denunciado por estupro, por uma assistente social, que prefere não se identificar. Segundo ela, o abuso ocorreu durante uma consulta no hospital público Galo Manuel Ibanez, onde os dois trabalham.

O caso foi registrado em uma delegacia em Manaus, que diz ter instaurado um inquérito policial. As secretarias de Saúde de Nova Olinda do Norte do estado ainda não se manifestaram.

A mulher disse à Rede Amazônica que o crime aconteceu no dia 11 de janeiro.

Em entrevista, ela relatou que marcou um exame de ultrassonografia para verificar se tinha pedras nos rins. No entanto, segundo a denúncia, o médico a obrigou a fazer uma transvaginal – exame que consiste em introduzir um aparelho nas partes íntimas da mulher.

De acordo com a assistente social, durante a consulta, o médico mandou que ela deitasse na maca e, ao iniciar o exame, fez comentários de teor sexual sobre o corpo dela.

“Abaixei a minha bata, ele pegou o aparelho para fazer o exame de rins e na ocasião, ele abaixou mais a minha bata e ficou: ‘olha essa marquinha, como é que você vem fazer esse exame assim? Logo eu que to na seca. O seu marido deve se acabar aí’. Eu fiquei tão sem ação, tão nervosa e eu falei ‘eu vim aqui para saber se tenho pedra nos rins’. Ele respondeu ‘pedra nos rins você não tem não, mas vamos fazer uma transvaginal para ver sua bexiga'”, contou a assistente social.

Conforme a mulher, o médico utilizou o instrumento para o procedimento sem colocar camisinha no aparelho, como é recomendado. No lugar da camisinha, ele colocou uma luva, segundo a assistente social. Ela contou, ainda, que o homem também fez movimentos sexuais com o aparelho e com os próprios dedos.

“Em pé, sem olhar para o monitor, ele introduziu [o aparelho] com força na intenção de ficar empurrando”, disse. Eu me desesperei, empurrei e falei ‘doutor há necessidade disso? O que o senhor está fazendo?’ Ele todo errado virou para o monitor e passou a mão no órgão dele, que estava completamente ereto”, completou a mulher.

A assistente social contou que empurrou o médico, vestiu as roupas e saiu em desespero pelo hospital. “Foi quando eu encontrei o outro médico plantonista, entrei na sala e me desesperei. Aí eu disse ‘meu Deus eu acabei de ser estuprada. O médico botou as mãos na cabeça e falou: eu estou sem chão. E aí eu fui pra minha casa e chorei”, afirmou.

Denúncia

A mulher disse que encontrou dificuldades para formalizar a denúncia sobre o crime. Ao comunicar o caso à direção do hospital, a gestão pediu que ela fizesse um relatório situacional, para que fosse encaminhado para a Secretaria de Saúde de Nova Olinda do Norte.

Abalada, a assistente social decidiu relatar a situação para o marido, que a levou na delegacia para fazer a denúncia.

No local, segundo a mulher, o atendimento não foi diferente. Um investigador disse estar no horário de intervalo e que não havia delegado na unidade.

“O investigador, leigo do assunto, pediu para que eu retornasse para minha casa, porque estava no horário de almoço, ele não ia me atender. E eu falei: investigador eu fui estuprada!'”.

A alternativa que a vítima encontrou foi viajar para Manaus para formalizar a denúncia na Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher (DECCM), vinculada à Polícia Civil do Amazonas (PC-AM).

Procurada, a unidade policial informou que abriu inquérito policial para apurar os fatos.

De acordo com o Código Penal Brasileiro, o crime de estupro consiste em constranger alguém mediante a violência ou ameaça a ter conjunção carnal ou atos dessa natureza. A pena pode chegar até 10 anos de reclusão e aumentar dependendo da gravidade do caso.

Outras vítimas

A advogada da vítima, Amanda Pinheiro, apontou que há relatos de que a assistente social não é a única vítima do médico. Diante disso, ela está tentando formalizar denúncias de possíveis vítimas.

“Nós já recebemos relatos que outras mulheres foram aliciadas e sofreram abusos por parte desse profissional. Então, nós estamos aqui aproveitando a oportunidade para convocar essas vítimas, para que elas não se calem”, ressaltou Amanda.
A assistente social disse que seguirá com a denúncia.

“Eu to me sentindo péssima, extremamente péssima, mas eu quero dizer para você mulher que foi aliciada, estuprada, você que passou pelo que eu estou passando, saiba que é difícil, mas será amparada. Você precisa denunciar, porque quanto mais a gente se cala, mais vítimas esse monstro vai fazer”, finalizou.

O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM) solicitou que a diretora geral do Hospital Galo Manuel Ibanez, em Nova Olinda do Norte, instaure procedimento administrativo para apurar a conduta do médico sobre a denúncia de estupro. A profissional, que não teve o nome divulgado, tem prazo de 5 dias, a contar do dia 16 de janeiro, para cumprir a recomendação.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas (CRM-AM) informou que tomou conhecimento da denúncia de suposto crime de estupro e que irá instaurar uma sindicância para apuração dos fatos.

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