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Congresso Nacional de Leptospirose, em Manaus, alerta para subnotificação de casos da doença no Brasil

Congresso Nacional de Leptospirose, em Manaus, alerta para subnotificação de casos da doença no Brasil
15/12/2021 13h00

A leptospirose, infecção febril aguda causada pela urina contaminada de animais, sobretudo ratos, ainda é uma doença negligenciada e subnotificada no Brasil. Os baixos índices de prevalência de casos e óbitos levam pesquisadores e autoridades de saúde a se preocuparem em definir estratégias de atuação que permitam combater de modo eficaz e mais rápido o avanço da doença e os riscos de contaminação pela bactéria causadora, a leptospira. Esse foi um dos alertas feitos nesta terça-feira, 14/12, primeiro dia de discussões do I Congresso Nacional de Leptospirose – One Health, que acontece até a próxima quinta-feira, 16/12, realizado pela Fiocruz Amazônia, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), reunindo mais de 500 inscritos.

O evento conta com palestras de autoridades renomadas em saúde pública do País e do exterior e tem transmissão on line. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Amazônia, Luciete Almeida, que coordena a iniciativa, a proposta do congresso é reunir estudos e pesquisas que permitam aprofundar os métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção da doença, contribuindo para reduzir o problema da subnotificação e fornecendo os subsídios necessários para a criação de um núcleo de pesquisa de epidemiologia molecular em leptospirose na região amazônica, mais especificamente em Manaus. Luciete, que é bióloga e especialista em Biotecnologia, com doutorado em Medicina Tropical, destaca o esforço da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em pesquisas cientificas sobre a doença e o pioneirismo na realização de um congresso nacional sobre a doença.

“Entre outras pesquisas, é da Fiocruz, por exemplo, o kit de teste rápido para diagnóstico da leptospirose, em uso hoje no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Gonçalo Muniz – Fiocruz/Bahia, que tem representantes participando do Congresso”, afirmou a bióloga. No primeiro dia do evento, ficou evidenciado que a leptospirose é uma doença ainda negligenciada por se confundir com outras viroses e estar associada às condições precárias de saneamento básico observadas em vários Estados brasileiros, especialmente na nossa região. A subnotificação, segundo a bióloga, afeta diretamente as populações vulneráveis que convivem com o lixo nas ruas e bueiros a céu aberto, propiciando a contaminação.

“Se analisarmos as séries históricas de casos, veremos que a cada dez anos é muito pouco o número de notificações de leptospirose e óbitos pela doença no Brasil e no mundo, daí a importância de se discutir políticas públicas de saneamento básico, campanhas de conscientização, coleta diária e destinação correta de lixo. Essas são questões presentes em todos os espaços urbanos”, explicou. Para se ter uma ideia da subnotificação, o número de casos de leptospirose registrados na última década no Amazonas é de 422, sendo 9% desse montante correspondente ao óbitos notificados pela doença. O acesso aos diferentes métodos de diagnóstico da leptospirose é outro importante passo para o controle da doença.

O número de inscritos do evento, mais de 500, superou a expectativa dos organizadores. “O I Congresso Nacional de Leptospirose é o momento de gritarmos para o Mundo sobre a importância dos estudos científicos em torno da doença e chamarmos a atenção das várias entidades da área da saúde do Amazonas para a situação crítica”, afirmou.

O evento tem como público-alvo a comunidade acadêmica, instituições de pesquisa e a Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, Sistema Integrado nos Hospitais de Manaus, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biomédicos, biólogos, comissão de infecção hospitalar, Vigilância Epidemiológica, além de pesquisadores e alunos dos diversos centros de pesquisa da área microbiológica e epidemiológica.

Nesta quarta-feira, 15, os debates seguem com as palestras sobre “Epidemiologia da leptospirose urbana”; “Interação patógeno-hospedeiro e candidatos vacinais”; “Desafio da leptospirose no contexto da saúde única”; “Diagnóstico da leptospirose animal”; “Legislações do saneamento e áreas vulneráveis à leptospirose”; “Leptospirose em animais silvestres”; “Parasitose intestinal em escolares de área urbana e rural do Amazonas”.

No último dia do evento, dia 16/12, as palestras seguem com os temas: “Caracterização de proteases secretadas por leptospiras-possíveis fatores de virulência”; “Laboratório de referência nacional no contexto do diagnóstico de leptospirose”; “Leptospirose uma retrospectiva de 10 anos”; “Atualizações sobre leptospirose em pequenos ruminantes e suínos em condições semiárida”; “A importância do sequenciamento de genoma para a epidemiologia da leptospirose no contexto de saúde única”; “Perfil epidemiológico e o impacto do gradiente social da infecção por leptospira em humanos no município de Manaus, Amazonas”.

NÚMEROS

De acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, no período de 2010 a 2020, no Brasil foram confirmados 39.270 casos de leptospirose (média anual de 3.734 casos), variando entre 1.276 (2.020) a 4.390 casos (2011). Nesse mesmo período, foram registrados 3.419 óbitos, com média de 321 óbitos/ano. A letalidade média no período foi de 8,7% e o coeficiente médio de incidência de 2,1/100.000 habitantes. Em 2019, o Amazonas registrou 162 casos suspeitos da doença, 52 confirmados e sete óbitos

Para acompanhar a programação do I Congresso Nacional de Leptospirose na Amazônia, o participante deve acessar os links disponibilizados no site clamazonia.com.br.

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