Manaus, 11/05/2025

Brasil

Dramaturgo Zé Celso Martinez morre aos 86 anos

Crédito: JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
Crédito: JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
06/07/2023 11h00

Ícone das artes cênicas brasileiras, o dramaturgo, diretor, ator e encenador José Celso Martinez Corrêa morreu nesta quinta-feira (6), na capital paulista, aos 86 anos. A informação foi confirmada pelo Teatro Oficina, companhia fundada por Zé Celso em 1958.

“Tudo é tempo e contra-tempo! E o tempo é eterno. Eu sou uma forma vitoriosa do tempo. Nossa fênix acaba de partir pra morada do sol. Amor de muito. Amor sempre”, postou o Teatro Oficina em sua conta no Instagram.

Zé Celso, como era conhecido, tinha sido internado internado na terça-feira (4) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas após um incêndio em seu apartamento, no Paraíso, Zona Sul de São Paulo. Ele teve 53% do corpo atingido por queimaduras, ficou sedado, entubado e com ventilação mecânica.

Além do dramaturgo, estavam no apartamento Marcelo Drummond, marido de Zé Celso, Ricardo Bittencourt e Victor Rosa, além do cachorro Nagô. Os três, incluindo Nagô, ficaram em observação por terem inalado muita fumaça.

Zé Celso Martinez Corrêa no Teatro Oficina em São Paulo, em imagem de março de 2017 — Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo/Arquivo
Zé Celso Martinez Corrêa no Teatro Oficina em São Paulo, em imagem de março de 2017 — Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo/Arquivo

Quem era Zé Celso

O dramaturgo, que nasceu em Araraquara, interior paulista, em 1937, é conhecido pela maneira excêntrica e ousada de montar suas peças de teatro e provocar e interagir com a plateia. Fez história ao criar uma arte experimental, política e sensorial, que sempre dialogou com seu tempo e outras manifestações artísticas, como a música, a poesia e o audiovisual.

Em junho deste ano, Zé Celso se casou com Marcelo Drummond, de 60 anos. Usando ternos brancos, o casal oficializou a relação de quase 40 anos em uma cerimônia no Teatro Oficina Uzyna Uzona, sede da companhia teatral criada pelo dramaturgo na região central de São Paulo.

Zé Celso iniciou a carreira no final da década de 1950 com duas peças de sua autoria: “Vento Forte para Papagaio Subir” e “A Incubadeira”. Sua influência artística foi além dos palcos, aparecendo também em obras do cinema, como “O rei da vela” e “25”.

Sem medo de experimentações e com constante desejo de renovação, Zé Celso provocou atores e público, criando um teatro mais sensorial, sempre guiado pela realidade política e cultura do país.

Ele estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde participou do Centro Acadêmico. O diretor não concluiu o curso, mas foi durante seu período universitário que fundou o Grupo de Teatro Amador Oficina, no final da década de 1950.

Inquieto e irreverente, o artista se destacou com suas montagens de criações coletivas. Em 1961, o grupo ganhou uma sede na Rua Jaceguai, no Centro da capital paulista, e se profissionalizou, se tornando o tradicional Teatro Oficina. Desde 1982, o Teatro Oficina é tombado como patrimônio histórico. A companhia é considerada uma das mais longevas em atividade no Brasil.

Em 1964, Zé Celso levou ao palco a peça Andorra, que marcou sua transição do realismo para um teatro com uma postura mais crítica, inspirada no teatro épico do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

Nesse período, Zé Celso viajou para a Europa para aprofundar seus estudos sobre Brecht. Anos após sua volta, o diretor levou o texto do alemão “Galileu Galilei” para os palcos do Oficina.

Improviso no palco, provocações na plateia

Em 1966, a sede do teatro foi destruída por um incêndio provocado por grupos paramilitares. Para reconstrução do espaço, o grupo levantou fundos fazendo remontagens de antigos sucessos no palco.

No final da década de 1968, Zé Celso levou ao Rio de Janeiro sua primeira peça fora do Teatro Oficina. Na ocasião, ele dirigiu o histórico espetáculo Roda Viva, de Chico Buarque, com um tom provocador. O espetáculo ganhou remontagem em 2019.

Zé Celso e José Mojica Marins em 'Encarnação do Demônio' — Foto: Divulgação
Zé Celso e José Mojica Marins em ‘Encarnação do Demônio’ — Foto: Divulgação

Na peça, os atores incitavam a plateia fisicamente, iniciando algo que se tornou uma marca nos trabalhos do diretor.

Com os trabalhos seguintes, Zé Celso foi aumentando ainda mais os projetos sensoriais, que estimulam os atores ao improviso e colocam a plateia em uma posição secundária.

Essas iniciativas de Zé em transformar a relação entre o palco e a plateia chegaram a se transformar em um movimento chamado de te-ato.

Exílio em Portugal

Os integrantes do Teatro Oficina foram perseguidos pelo regime militar. Em 1974, Zé Celso partiu para o exílio em Portugal depois de ficar detido por 20 dias e ser torturado. Durante o exílio, apresentou algumas peças e dirigiu o documentário O Parto, retornando para o Brasil em 1978.

Na década de 1980, Zé Celso ficou afastado dos palcos, se dedicando a pesquisas e a oficinas ministradas no espaço.

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