“As meninas são mulheres de negócios, somos sócios”, diz ele, sentado no bar com a mão na cintura de uma prostituta. Essa, conhecida como Honey, tem seus 20 anos, idade que Amy tinha quando começou a trabalhar no ramo, há quase três décadas.
“A gente trabalha junto”, acrescenta. “A prostituição é um negócio imundo e cheio de drogas — até ser legalizada.”
Os bordeis legais de Nevada estão em operação desde 1971. O que eram lugares discretos frequentados por caminhoneiros solitários se tornaram, nas mãos de Hof, uma indústria do século 21, com um toque de glamour de Hollywood e marketing ousado.
Em reuniões semanais chamadas de “hora de chá”, Hof passa a sua sabedoria comercial para as mulheres com quem trabalha. Como num escritório comum, os nomes das funcionárias do mês ficam expostos na parede. Algumas recebem elogios e presentes, de perfumaria a aparelhos eletrônicos, por terem atingido os maiores números de clientes.
O clima é um misto de conferência de vendas e retiro New Age. As mulheres, todas com caderninhos na mão, têm que bolar frases positivas, como “Tente ser um arco-íris na nuvem de alguém”.
Hof diz a elas o tempo todo para usar as redes sociais para conseguir mais clientes. “É das meninas que postam que eles gostam”, diz ele, com um charuto na boca. Metade de tudo que elas ganham vai para a casa. Em sua biografia The Art of the Pimp (A arte do cafetão), ele se gaba de lucrar bastante.
No entanto, ele acha que bordeis legais beneficiam a todos.
“As pessoas têm que entender que se eu fosse dono de quatro McDonald’s no país, pagaria $1,200 por ano em impostos,” diz. “Sou dono de quatro bordeis, pago meio milhão de dólares por ano de impostos. Isso é muito para uma região tão pequena quanto esta.”
Ele diz ainda que seu negócio traz $10 milhões por ano para a economia local ao empregar pessoal de limpeza, bartenders, cozinheiros, motoristas, médicos, cabelereiros e outros profissionais, e diz que a indústria do sexo incentiva o turismo no estado todo.
Na nossa primeira manhã no Bunny Ranch, três homens com roupa de motoqueiro tocaram a campainha. Eram turistas chineses. “Meus amigos ouviram falar deste lugar e não acreditaram quando souberam que era legal. A gente veio conhecer.”
Prostituta feliz?
Se esse tipo de turismo é vantajoso para o estado, no entanto, é um ponto de discussão. Alguns dizem que bordeis fazem todas as mulheres que moram por perto correrem mais risco de serem assediadas, que aumenta o risco de tráfico de mulheres e que afasta negócios “respeitáveis”.
Por ora, não parece que os bordeis tenham restringido o desenvolvimento econômico no norte do estado. A empresa automotiva Tesla construiu uma fábrica gigante de bateria de lítio ao custo de $5 bilhões a poucos quilômetros de um bordel legal no condado de Storey.
Mas críticos dizem que indústrias mais high-tech viriam se os bordeis não existissem e que elas seriam o futuro do estado. Eles também fazem objeções éticas.
Brenda Simpson, que faz parte de um comitê legislativo pelo fim do tráfico de mulheres e da prostituição, diz que é hora de parar de fechar os olhos para a questão.
“Antigamente trazer escravos da África também era uma coisa normal”, diz ela, num parque da capital. “Finalmente alguém criou coragem para dizer ‘Não, não vamos aceitar a escravidão’. Os bordeis são outro tipo de escravidão. Essas mulheres são escravas.”
O objetivo final de pessoas como ela é acabar com a prostituição legal em todo o estado. Lyon foi o único de 16 condados cujos moradores assinaram uma petição para fazer uma consulta popular sobre o fechamento de um bordel, mas se der certo, ela acha que outros condados seguirão o mesmo caminho.
O grupo dela lançou recentemente a campanha “Fechem o mercado de carnes”. Cartazes, folhetos e comerciais de TV mostram mulheres empacotadas em contêineres de plástico como carne de frango e cordeiro.
Melissa Holland, que tem um abrigo para mulheres que sofreram violência na cidade de Reno, também não compra a história da “prostituta feliz”.
Ela diz que sua organização ajudou muitas mulheres no estado a deixar a prostituição e achar outros empregos.
Ela cita um estudo sobre a indústria do sexo de Nevada feito por acadêmicos do estado da Califórnia que conclui que prostituição legal melhora as condições para os cafetões e os donos dos bordeis, mas não para as mulheres que trabalham neles. O estudo descreve um clima quase de culto em muitos bordeis legais, o que impede suas funcionárias de falarem francamente sobre os perigos que elas vivem, como uso de drogas e assédio sexual.