Essa situação gerou uma revolta de professores em abril deste ano. O movimento foi iniciado em West Virginia, com reivindicações de melhores salários e plano de saúde, e rapidamente se espalhou por outros cinco Estados, com protestos e paralisações, que em alguns locais se estenderam por mais de uma semana.
No Arizona, o governador republicano Doug Ducey prometeu aumento de 20% em 2020. Em Oklahoma, os legisladores chegaram a quebrar o tabu de governos republicanos ao sugerir elevar impostos sobre cigarros e outros produtos para pagar por melhores salários para os professores.
Mas essas propostas não foram consideradas satisfatórias pelos manifestantes, que exigiam maior financiamento para escolas públicas.
Muitos legisladores de Oklahoma criticaram os professores por não reconhecerem o risco político que haviam assumido ao propor um aumento de impostos, o primeiro desde 1990. O embate levou a governadora Mary Fallin a comparar as exigências dos professores às de “um adolescente que quer um carro melhor”.
Os protestos de abril revelaram não apenas a dificuldade em obter maior financiamento para educação pública, mas também o apoio da população às causas defendidas pelos professores. Nesse cenário, muitos decidiram enfrentar nas urnas os mesmos políticos que rejeitaram suas reivindicações.
“Há um enorme apoio do público não apenas ao aumento de salários para professores, mas também ao direito dos professores de protestar”, disse à BBC News Brasil a cientista política Elizabeth Mann Levesque, especialista em educação do Brown Center on Education Policy, ligado ao centro de pesquisas Brookings Institution.
Não há dados oficiais sobre o número de professores concorrendo nestas eleições. A Federação Americana de Professores, segunda maior união de educadores nos EUA, calcula que 300 membros estão disputando cargos públicos, o triplo do registrado nas duas últimas eleições. Esses candidatos concorrem tanto como democratas quanto como republicanos.
“Não é incomum que professores concorram a cargos públicos, mas tipicamente são posições ligadas à Educação. Neste ano, porém, estamos vendo muitos educadores disputando cadeiras nos legislativos estaduais e locais, o que é diferente”, disse à BBC News Brasil o economista especializado em educação Michael Hansen, diretor do Brown Center on Education Policy.
A maioria dos professores busca vagas nas assembleias e senados estaduais, onde debates sobre Educação vêm dominando várias campanhas. Em nível federal, segundo Hansen, o tema não costuma ter muito destaque em eleições legislativas de meio de mandato, como esta.
O movimento dos professores já provocou surpresas durante as eleições primárias. Em Kentucky, o professor de matemática Travis Brenda, que tem 20 anos de profissão e nunca havia concorrido a cargo público, venceu a primária do Partido Republicano para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa estadual. Brenda derrotou o líder da maioria republicana, Jonathan Shell, que havia proposto cortes no sistema de aposentadorias dos professores.
Em Oklahoma, dos 19 legisladores republicanos que haviam votado contra o aumento de impostos para cobrir os salários dos professores, sete decidiram não tentar a reeleição. Dos outros 12, oito foram derrotados nas primárias.
A impopularidade dos republicanos por conta dos problemas na Educação também pode ser vista na disputa para governador. Em um Estado em que o presidente Donald Trump venceu com 65% dos votos, pesquisas mostram o candidato democrata Drew Edmondson em empate técnico com o adversário republicano, Kevin Stitt. Ex-procurador-geral de Oklahoma, Edmondson foi professor de Ensino Médio antes de ingressar na Faculdade de Direito, e fez da Educação um dos principais focos de sua campanha.
No Arizona, o governador Ducey, que busca a reeleição, vai enfrentar o democrata David Garcia, professor universitário. A Educação também vai ser tema de um referendo. Os proponentes querem impedir a expansão de um programa que oferece vouchers para que, em vez de se matricular em escolas públicas, os estudantes possam usar os recursos em instituições particulares.
Esse sistema existe em vários Estados e tem entre seus defensores a secretária de Educação dos Estados Unidos, Betsy DeVos. Mas críticos dizem que os vouchers reduzem o financiamento das escolas públicas, que abrigam 92% dos estudantes americanos.
Segundo Hicks, durante a campanha é comum ouvir pais dizerem que gostariam de colocar os filhos em escolas públicas, mas acreditam que essas instituições estão falhando em sua missão.
“Eu compreendo completamente. É uma crítica dura, mas que as escolas públicas precisam ouvir. Ainda temos muito trabalho pela frente para garantir uma educação gratuita e de qualidade para todos.”