A Justiça mandou soltar o médico equatoriano Bolívar Guerrero, acusado por homicídio tentado qualificado e por motivo torpe contra a dona de casa Daiana Chaves, de 37 anos, após uma cirurgia plástica malsucedida.

O caso de Daiana ganhou repercussão depois de ela afirmar que foi mantida em cárcere privado na Clínica Santa Branca, de propriedade do médico equatoriano. Isso aconteceu após ela realizar uma intervenção cirúrgica para fins estéticos e ter complicações.

A juíza Anna Christina da Silveira Fernandes atendeu a um pedido da defesa de Bolívar feito na primeira audiência de instrução e julgamento do caso, no último dia 3.

“Foi um requerimento feito pela defesa que mostrava que a prisão não se justificava mais, já que o processo está na fase de instrução. Além disso, os depoimentos produzidos na audiência de instrução e julgamento mostraram que a sra. Daiana estava apta, confiante e consentiu todos os procedimentos que foram feitos nela”, disse o advogado do médico equatoriano, Saulo Morais.

Ele aguarda agora a manifestação do Ministério Público para fazer suas alegações finais da defesa de Bolívar Guerrero.

A técnica de enfermagem Kellen Cristina de Queiroz dos Santos também responde pelo crime no processo junto com Bolívar.

O advogado de Kellen comentou a soltura de Bolívar e acredita que o pedido feito por ele para a sua cliente – de que ela possa voltar a trabalhar como técnica de enfermagem – também seja atendido pela Justiça.

“Em relação à decisão judicial entendemos ser a mais justa. Na audiência de instrução ficou bem claro que o que se deu foi em razão da irresponsabilidade da paciente e que em nenhum momento ela correu risco eminente de morte. Portanto justo que os acusados respondam o processo em liberdade com a convicção que serão impronunciados “, disse o advogado Renato Darlan.

De acordo com o Ministério Público, Bolívar e Kellen foram os responsáveis pelas cirurgias plásticas malsucedidas [uma abdominoplastia e uma mamoplastia] em Daiana, e que a levaram ser internada por quase quatro meses, com passagens pelo CTI. Daiana também ficou com o corpo marcado com cicatrizes das operações.

Na audiência, Daiana foi uma das testemunhas ouvidas, assim como membros de sua família.

“Fiquei bem nervosa durante o depoimento e não quis assistir ao restante da audiência porque fiquei com medo. Lembrar aquilo tudo me fez mal também, mas acredito que a justiça vai ser feita”, disse Daiana, que depôs sem a presença dos réus.

Pedidos de liberdade e para voltar a exercer profissão

Ao final da audiência, dois pedidos das defesas de Bolívar e de Kellen Queiroz chamaram atenção. No caso do médico equatoriano, que está preso desde o dia 18 de julho de 2022, foi solicitada a revogação da prisão dele, ou substituição por outras cautelares, uma vez que a instrução criminal já acabou.

Já a defesa de Kellen pediu para que ela voltasse a exercer sua profissão, já que a Justiça impôs o afastamento dela de qualquer unidade hospitalar na época da investigação do caso. Kellen fez o pedido alegando que já havia regularizado sua situação profissional. Kellen foi apontada por pacientes da Clínica Santa Branca, de propriedade de Bolívar, como falsa médica.

Kellen Queiroz, na verdade, é técnica de enfermagem. No entanto, de acordo com o Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ) na época das investigações, ela não podia exercer essa atividade, pois estava com o registro vencido na instituição.

Situação de Kellen Queiroz no Coren-RJ: registro ativo e definitivo — Foto: Reprodução

O caso

O caso de Daiana Chaves Cavalcanti veio à tona depois de ela começar a denunciar publicamente que era mantida em cárcere privado na Clínica Santa Branca, de propriedade do médico equatoriano Bolívar Guerrero Silva.

No dia 3 de maio, ela realizou intervenção cirúrgica para fins estéticos nas nádegas, costas e abdômen. Teve complicações, voltou à Santa Branca e foi convencida a fazer uma abdominoplastia para corrigir os problemas da primeira cirurgia. Além disso, ela também passou por uma mamoplastia, cirurgia que reduz as mamas e as reposiciona.

O quadro de saúde de Daiana só piorou, e ela passou a pedir transferência, inclusive na Justiça, o que não foi atendido pela clínica, nem por Bolívar.

Bolívar Guerrero Silva foi preso no dia 18 de julho, quando estava dentro do centro cirúrgico da Clínica Santa Branca, por não cumprir a ordem judicial de transferir Daiana. Ele tentou alguns relaxamentos de prisão, mas a Justiça não concedeu. Os bens da clínica também foram bloqueados pela Justiça na época.