A barragem de rejeitos, que ficava na mina do Córrego do Feijão, se rompeu na sexta-feira (25). O mar de lama varreu a comunidade local e parte do centro administrativo e do refeitório da Vale. Entre as vítimas, estão moradores e funcionários da Vale. A vegetação e rios foram atingidos.
Das 31 vítimas já identificadas, 18 eram funcionários da Vale e 13, terceirizados ou moradores da comunidade. Entre os desaparecidos, 114 são funcionários da mineradora e 174 são terceirizados ou moradores da região atingida pela lama.
Helicóptero faz o transporte de corpo retirado da lama em Brumadinho — Foto: Reprodução/GloboNews
As buscas nesta terça começaram pouco depois das 6h. Segundo o Corpo de Bombeiros, a operação desta deve priorizar a área em que possivelmente ficava o refeitório onde almoçavam funcionários da Vale no momento da tragédia.
As equipes usam helicóptero para fazer o transporte dos corpos retirados da lama.
Participam dos trabalhos 290 militares, sendo 120 de Minas Gerais e os outros de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Alagoas. Em nota, os Bombeiros de Minas Gerais afirmaram que os militares israelenses também atuam na chamada “área quente”.
De acordo com Aihara, a tropa da ajuda oferecida por Israel trouxe equipamentos para mapeamento de celulares, sonares, radar que detecta o tipo de material que está no local e drones ligados a satélites para mapear a área atingida.
Um dos equipamentos israelenses é capaz de encontrar pessoas com vida a 30 metros de profundidade.
Ajuda do governo de Israel
Em entrevista coletiva no final da tarde desta terça, o chefe da delegação de Israel, coronel Golan Vach, afirmou que a tropa tem equipamentos que atuam em três níveis:
- satélites e drones, para fazer o mapeamento do terreno e ajudar a comparar como eram as condições antes e depois da tragédia.
- câmeras visuais, câmeras térmicas (que auxiliam a encontrar pessoas se elas estiverem vivas), radares para o solo e para a água, câmeras de infravermelho, localizador de celulares e “câmeras finas”, que podem entrar em lugares bem estreitos.
- soldados que trabalham em solo (com auxílio de cães). Para Vach, esses homens são a ferramenta mais sofisticada da operação.
Golan Vach afirmou que os bombeiros do Brasil e de Israel estão trabalhando juntos e que a tropa estrangeira ficará no Brasil “até que não seja mais útil”. “O importante é que houve um horrível desastre. Muitas pessoas morreram, a maioria delas ainda não foi descoberta. E agora, neste momento, nós estamos aqui para ajudar”, declarou.
Também presente na coletiva, o coronel brasileiro Erlon Dias do Nascimento disse que não houve qualquer “mal-estar” causado pela chegada dos israelenses. Ele falou em “balanço extremamente positivo” e em “troca de experiências extremamente importantes e troca de tecnologias”.
Nascimento afirmou homens do Brasil e de Israel estão localizando corpos – não detalhou, no entanto, quantos foram encontrados. De acordo com o coronel brasileiro, o processo de resgate prevê, primeiro, a localização das vítimas, com trabalho visual, tecnológico, buscas manuais dos bombeiros ou outras forças.
A partir daí, vem a segunda fase – é quando equipes integradas ou de bombeiros vão aos locais e, efetivamente, fazem o resgate. O corpo, então, é levado a um ponto específico e, por fim, é determinada uma destinação específica.
Apesar de a lama dificultar a sobrevivência, os bombeiros não descartam a possibilidade encontrar pessoas com vida.
Israelenses usam equipamento para encontrar sinal de celulares — Foto: Divulgação
As famílias afetadas pela tragédia vão receber celulares com chips com minutos de ligação e dados de internet.
Segundo o coronel Alexandre Lucas, secretário nacional de Defesa Civil, 300 celulares com chips vão ser disponibilizados pelo governo federal. As famílias devem ir nesta terça ao Espaço Conhecimento de Brumadinho, a partir das 16h, para buscar os aparelhos. Os moradores devem levar documentos que comprovem o parentesco com as vítimas.
A Polícia Civil de Minas Gerais diz ainda que um cartório foi instalado no Instituto Médico Legal (IML) para facilitar o registro dos corpos que são liberados.
Bombeiro trabalha no resgate de uma vaca nesta terça (29), 5º dia de buscas em Brumadinho — Foto: Giazi Cavalcante/Código19/Estadão Conteúdo
Até o momento, mais de 26 animais foram resgatados e estão recebendo cuidados. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e outros órgãos acompanham. A Defesa Civil afirma que eles são levados a um sítio da região, onde recebem tratamento, alimentação, medicamentos e são assistidos por veterinários.
Em nota, a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais informa que há animais vivos nas áreas afetadas. “Eles estão recebendo alimentação, água e cuidados, até que seja possível resgatá-los”, diz o comunicado.
O órgão informa ainda que “em nenhum momento houve autorização por parte do Gabinete Militar do Governador/coordenadoria Estadual de Defesa Civil para o abate de animais aleatoriamente ou por meio de métodos em desacordo com as normas”.
Questionado os casos de abate, o tenente dos Bombeiros Pedro Aihara afirmou que “em alguns casos, o resgate não é viável pelo sofrimento do animal”.
“É mais interessante optar pela eutanásia. No caso de alguns animais, que sofreram fraturas e perfurações, não é ético insistir. Seguimos as determinações e normativas. O abate só é feito após uma análise bastante cuidadosa e quando é devidamente autorizada. Via de regra, é feito com injeção letal, mas outras situações específicas devem ser analisadas. O Corpo de Bombeiros tem essa preocupação também.”
Segundo autoridades, o abate é feito com injeção letal, geralmente, mas isso pode mudar de acordo com a logística.
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal, que também atua no local da tragédia de Brumadinho, informou que, nesta segunda-feira, uma de suas equipes sobrevoou a região à procura de animais. “Seguindo os protocolos estabelecidos para este tipo de situação, a equipe estava acompanhada de veterinários que faziam análise e triagem dos casos”, diz o texto.
O comunicado cita que “lamentavelmente, durante a triagem dos animais, foram encontrados três casos específicos de bovinos atolados na lama, em estado de exaustão e com fraturas de membros”. “Após análise da equipe veterinária, considerando a impossibilidade de adoção de outras medidas, foi tomada a decisão pela eutanásia daqueles animais. O procedimento foi orientado e supervisionado pela equipe veterinária sob a coordenação do comando da operação de resgate.”
Nesta segunda-feira, a Juíza Perla Saliba Brito determinou que a Vale
começasse imediatamente a cuidar do resgate de animais atingidospela tragédia.
Engenheiros da Vale presos em MG e em SP
Cinco pessoas foram presas na manhã desta terça suspeitas de responsabilidade na tragédia da barragem 1 da Mina do Feijão, em Brumadinho. Dois engenheiros da empresa TÜV SÜD que prestavam serviço para a mineradora Vale foram presos em São Paulo. Em Minas Gerais, foram presos três funcionários da Vale.
No mandado, a juíza que decretou a prisão afirma que “havia meios de se evitar a tragédia”.
Os investigadores do Ministério Público e da polícia apuram se documentos técnicos, feitos por empresas contratadas pela Vale e que atestavam a segurança da barragem que se rompeu, foram, de alguma maneira, fraudados.
De acordo com o MP, a força-tarefa criada para a investigar o desastre atua em três núcleos:
- criminal;
- socioeconômico (para defesa das vítimas;
- e socioambiental.