Manaus, 29/03/2024

Esportes

Olimpíada assusta cidadãos de Tóquio após aumento de mortes

Olimpíada assusta cidadãos de Tóquio após aumento de mortes
13/06/2021 15h30
A Olimpíada de Tóquio se aproxima e os moradores da capital japonesa estão assustados. A nova onda de contaminação pela Covid-19, com o aumento do número de mortes comparado à lentidão das campanhas de vacinação, é o motivo. Ainda mais com a iminente chegada de 11 mil estrangeiros ao país.

A reportagem do Estadão andou pelos bairros e ruas de Tóquio, nas proximidades das arenas esportivas dos Jogos e centros comerciais da cidade para flagrar o comportamento dos japoneses comuns com a aproximação do grande evento. Constatou a enorme preocupação com a ‘invasão’ de atletas e membros de delegações de outros países.

Há um sentimento forte de que os Jogos Olímpicos deveriam ser cancelados. As ruas não estão como antes. Nem as empresas, os restaurantes e os parques da cidade. Estão mais vazias e tristes O transporte público reduz o número de ônibus, metrôs e trens nos fins de semana para forçar o cidadão da capital a ficar em casa. Tudo por causa da pandemia. Há muito medo no ar.

Um recorrente aumento da epidemia está colocando a opinião pública contra a realização dos Jogos. A capital e outras nove províncias estão em estado de emergência. Os governos do Japão e de Tóquio, no entanto, aceitam o desafio de realizar o evento para, segundo o Comitê Organizador, “iniciar a vitória sobre o vírus a partir da conformidade e do respeito ao próximo”, valores presentes na cultura japonesa.

Na teoria, isso é lindo. Na prática, o cidadão comum, que depende do sistema de saúde público, vê a aproximação dos Jogos com reticência. Por causa das novas variantes do vírus, a epidemia que parecia estar controlada no fim do inverno (fevereiro), volta a crescer. A média diária de casos é de cinco mil novos contaminados em todo o país, sendo 700 na capital japonesa, que já está enfeitada para a competição, cuja abertura está marcada para 23 de julho.

O clima é de muita desconfiança.

Pesquisas de opinião mostram que posições contrárias à competição agora são de 60% a 65%, no momento em que mobilizações contra sua realização ganham força nas mídias sociais e em locais movimentados como Shibuya e Shinjuku. Manifestações e abaixo-assinados são cada vez mais frequentes pedindo o cancelamento da Olimpíada. Jornais locais, como Japan Times e Asahi Shimbun, têm revelado pesquisas em diversos segmentos da sociedade.

Os empresários japoneses defendem que os Jogos devem ser adiados (32%) ou cancelados (37%). O clamor dos populares segue na mesma linha. Cerca de 43% das pessoas pedem o cancelamento da Olimpíada e 40%, o seu adiamento. No geral, 65% das pessoas não aprovam a disputa. O COI e o Comitê Olímpico Local não admitem nem uma coisa nem outra.

O adiamento dos Jogos elevou seu custo de US$ 12,6 bilhões (cerca de R$ 66,4 bilhões) para US$ 15,4 bilhões (aproximadamente R$ 80,6 bilhões). O valor é US$ 2,8 bilhões (R$ 14,5 bilhões) superior, sendo que a ausência de turistas não trará dividendos ao Japão. Os Jogos do Rio-2016 custaram US$ 13,2 bilhões (cerca de R$ 43,3 bilhões).

DIVISÃO
Daiki Kino, de 42 anos, estava ensinando sua filha a engatinhar no gramado próximo à praça dos monumentos olímpicos, que inclui a pira olímpica de Tóquio-1964. Ele concorda com a decisão de executar o plano inicial.

– Gostaria que a Olimpíada fosse realizada. Não é necessário cancelar se fizerem com menos espectadores. Grandes estruturas foram construídas e renovadas e seria um desperdício ter de cancelar tudo – comentou.

Na ensolarada tarde de um domingo de maio, Naoki Sakuma, de 58 anos, acompanhado de sua mulher, testava sua câmera ‘mirrorless’ Ele se declara contrário à realização da Olimpíada. Citando o recente recrutamento de enfermeiras para trabalho voluntário nos Jogos, comenta ser impossível realizar um evento deste tamanho devido à atual situação.

– Médicos e enfermeiras são, de verdade, muito importantes para os cidadãos do país. A sociedade não pode ser deixada em segundo plano em detrimento de um evento esportivo mundial – disse.

Ele demonstra apreensão com a atual decisão do governo e do Comitê Olímpico Internacional (COI).

– Seria bom que o evento fosse bem-sucedido, mas no caso de insucesso, a esperança de vencer a pandemia vai diminuir – previu Naoki.

Kyosuke Chikayama, de 38 anos, argumentou que os casos da doença estão aumentando de novo, depois de breve redução no fim de abril.

– Agora eu sou contra – disse.

Amigo de Kyosuke, o australiano Thomas Griffits, de 29 anos, é neutro.

– Para mim, tanto faz. Eu gosto de natação, mas não tenho muito interesse na Olimpíada. E se por causa disso a epidemia aumentar em Tóquio? Será que vale a pena correr o risco? – questionou.

Porém, não faltam razões para que a Olimpíada tenha a simpatia das pessoas. No centro de Shinjuku, Midori Ishii, de 19 anos, pensa no sentimento dos atletas paralímpicos.

– Se eles perderem esta oportunidade, suas condições podem ser agravadas por depressão e talvez eles não tenham nova oportunidade – preocupa-se a jovem.

As pessoas que saem às ruas não desperdiçam a chance de fazer selfies e fotos ao lado dos monumentos olímpicos. Ao pensar em Tóquio, a imagem de uma multidão atravessando o cruzamento agilmente, apressada, logo vem à cabeça. Mas, devido ao estado de emergência, caminhar nas ruas da capital japonesa já não é a experiência efusiva de antes. Bares e restaurantes fecham às oito da noite e não abrem nos fins de semana. Lojas de departamentos tiveram os horários limitados das 10 da manhã às 6 da tarde.

Lugares como o distrito de Ginza, que estariam repletos de gente num domingo de sol, foram flagrados com poucas pessoas e muito espaço entre elas. É até mesmo possível descobrir novos detalhes dos belos passeios públicos dos arredores da estação de Tóquio.

Existem estabelecimentos comerciais noturnos, como os populares bares de hostess (acompanhantes) que não respeitam o estado de emergência, manifestações de grupos que negam a existência da doença e não usam máscaras porque “não há motivos para isso”. Pela constituição japonesa, não há o que proibir nesses casos. A polícia não trata esses grupos ou estabelecimentos como “foras da lei”.

Não há qualquer tipo de repressão nem multas.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.