07/11/2018 16h30
G1 – Após 8 anos, Partido Democrata volta a ter maioria de deputados e pode complicar 2ª metade do mandato de Trump ao rejeitar projetos de interesse do presidente, além de fazer pedidos de investigação contra o governo.
Partido Democrata conquistou a maioria da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos pela primeira vez em oito anos. O resultado das eleições legislativas significa uma derrota parcial para o presidente Donald Trump, já que o seu partido, o Republicano, irá ampliar sua vantagem no Senado, de acordo com projeções.
As “midterms” (eleições de meio de mandato) desta terça-feira (6) definiram uma nova Câmara e renovaram um terço do Senado, além de mais de 75% dos governos estaduais. Veja os destaques:
- Câmara: até o momento, democratas elegeram 219 deputados e republicanos, 193.
- Senado: democratas conseguiram 45 vagas e republicanos, 51 vagas, também até o momento.
- Estados: serão ao menos 25 governadores republicanos e 22 democratas (três estados ainda não divulgaram resultados). O partido Democrata ganhou em locais onde Trump foi vitorioso em 2016, como o Kansas, Nevada e Michigan.
- Análise: opositores de Trump avançaram nas urnas, mas as vitórias foram menores e mais apertadas do que se previa.
Todas as 435 cadeiras da Câmara estavam em disputa, e um partido precisava de 218 eleitos para garantir a maioria. Para os democratas, isso significava ter que “roubar” 24 postos de seus adversários, o que eles conseguiram. No momento em que os democratas conseguiram 219, o partido de Trump somava 193 deputados eleitos.
Com o domínio democrata na Câmara, os opositores do presidente também passarão a ocupar mais cargos nas comissões internas e prometem ampliar as investigações sobre seu governo.
No Twitter, antes mesmo da apuração oficial indicar que integrantes do partido de Barack Obama comandariam a Câmara dos Representantes, Trump minimizou o revés:
Foi um tremendo sucesso esta noite. Obrigado a todos!
— Donald Trump
Para o colunista do G1 Helio Gurovitz, a comemoração faz sentido: “O placar foi mais apertado do que os democratas gostariam”, avaliou.
“Apesar de não ter protagonizado o tsunami que desejava, a oposição sairá com um saldo positivo em torno de 34 cadeiras, algo como 229 dos 435 votos. É o suficiente para rejeitar qualquer iniciativa legislativa do Executivo e até para denunciar o presidente num processo de impeachment (nos Estados Unidos, a denúncia exige maioria simples na Câmara; a condenação, dois terços no Senado).”
Os deputados democratas podem barrar, por exemplo, a liberação de fundos para construção de um muro na fronteira com o México, rejeitar um segundo grande pacote de cortes fiscais e impedir a aplicação de mudanças nas políticas comerciais, como desejava Trump.
A nova Câmara terá ainda a habilidade de investigar as declarações fiscais de Trump, possíveis conflitos de interesse empresariais e alegações envolvendo a campanha do presidente em 2016 e a Rússia.
Segundo o chefe de gabinete da líder democrata Nancy Pelosi, o presidente Donald Trump telefonou para ela para cumprimentá-la pela vitória democrata na Câmara. Ele a agradeceu pelo chamado ao bipartidarismo que ela fez em seu discurso, disse Drew Hammil no Twitter.
Ao falar a eleitores e membros do Partido Democrata em Washington, Pelosi foi recebida aos gritos de “presidente, presidente”, em uma indicação de seu favoritismo a ocupar a posição de presidente da Câmara. “Graças a vocês ganhamos terreno. Graças a vocês, amanhã será um novo dia na América”, disse ela em seu discurso.
Das 35 cadeiras disputadas no Senado, os democratas precisavam manter as 22 que tinham, além das duas dos independentes que os acompanham nas votações, e ainda somar mais duas. Mas, pelo contrário, acabaram perdendo três, nos estados de Indiana, Dakota do Norte e Missouri.
Os republicanos conseguiram manter a maioria de 51 assentos, contra 45 dos deputados democratas e independentes, ainda faltando alguns estados concluírem sua apuração.
Para o presidente Donald Trump, a votação serviu como um termômetro para avaliar a reação do eleitorado aos seus dois primeiros anos de governo. No último discurso da campanha, em Missouri, o presidente chegou a afirmar: “De certo modo, eu estou na cédula de voto”. Em geral, o partido do presidente costuma perder assentos nas “midterms”.
Trump se envolveu diretamente na campanha e participou de 11 comícios em oito estados, subindo inclusive no palanque de seu ex-adversário e grande desafeto Ted Cruz, candidato à reeleição no Texas.
Wayne Gallagher ajuda a contar votos das ‘midterms’ em Hinsdale, em New Hampshire, na terça-feira (6) — Foto: Kristopher Radder /The Brattleboro Reformer via AP
Nos comícios, Trump usou de sua experiência como apresentador de televisão para cativar o público e se colocar no centro do debate. Em seus discursos, o presidente colocava os eleitores diante da escolha entre a sua gestão, que expandiu a economia e reduziu o desemprego a 3,7%, e as posturas dos democratas, os quais chama de “extremistas de esquerda”.
Trump também usou, ao longo da campanha, o tema da imigração para criticar fortemente os opositores e tentar obter votos para os republicanos. Ele acusava a oposição de ter criado e aprovado leis que permitem a entrada e estada no país de imigrantes ilegais. Chegou a prometer revogar o direito à cidadania para quem nasce nos Estados Unidos – o que ele não tem poder para realizar –, além de adotar discurso duro em relação às caravanas de imigrantes que se dirigem ao país.
Para parte dos eleitores, Trump não era um fator decisivo para sua ida às urnas. Em uma pesquisa de boca de urna divulgada pela CNN na noite da eleição, 39% dos eleitores queriam expressar sua oposição ao presidente, enquanto 26% disseram que queriam mostrar apoio a ele. 33% não levaram Trump em conta ao votar.