Manaus, 19/05/2024

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VÍTIMAS DE ASSÉDIO MORAL MUITAS VEZES SOFREM ‘CALADAS’ E DESCONHECEM QUE ESSA CONDUTA PODE SER COMBATIDA

VÍTIMAS DE ASSÉDIO MORAL MUITAS VEZES SOFREM ‘CALADAS’ E DESCONHECEM QUE ESSA CONDUTA PODE SER COMBATIDA
06/11/2018 19h00

O assédio moral pode ser a causa original de uma série de doenças, incluindo a depressão, distúrbios no sono, enxaquecas, dores na coluna e nervosismo. Muitas vezes as vítimas sofrem caladas e não sabem que o assédio moral pode e deve ser combatido. Essas informações foram discutidas no primeiro dia do curso sobre Assédio Moral no Trabalho que começou na tarde desta segunda-feira (5) e vai até o dia 9 de novembro, no auditório do Centro Administrativo Desembargador José Jesus Ferreira Lopes, anexo à sede do Poder Judiciário estadual, em Manaus.

“O assédio tem uma configuração na sua frequência e gravidade, e toma uma proporção maior na pessoa que é atingida por esse tipo de conduta. Muitas vezes a pessoa assediada sofre calada”, comentou a professora de Psicologia da Ufam Tamara Menezes, acrescentando que, em alguns casos, a vítima não se sente à vontade para contar a ninguém sobre esse sentimento por receio de o mesmo ser banalizado ou não levado a sério. “Quando o sofrimento é banalizado, passa a ser omitido”, complementou a professora que fez parte da mesa de debates neste primeiro dia de curso, quando os especialistas abordaram a relação sofrimento, trabalho e assédio.

“Esse é um dos principais problemas em relação ao assédio moral, quando a pessoa não fala, sofrendo calada e sozinha. E por se tratar muitas vezes de um sofrimento contínuo, demorando para ser detectado, os efeitos que atingem o indivíduo são muito sérios, podendo levar inclusive à depressão, ansiedade, somatização de doenças, dentre outros problemas”, explicou Tamara.

Nesse primeiro dia de curso foram tratados alguns conceitos, principalmente relacionados à questão da saúde mental, depois foram pontuadas pesquisas do Laboratório de Psicodinâmica no Trabalho (Lapsi), da Universidade Federal do Amazonas, além de exemplos de assédio moral.

O professor Ronaldo Gomes Souza, do curso de Psicologia da Ufam, ressaltou que durante toda esta semana serão discutidos conteúdos que trarão abordagens teóricas e práticas em relação ao assédio moral, definidos por profissionais que atuam diretamente com esse assunto. “Até sexta-feira, os participantes terão oportunidade aprender a reconhecer quando alguém é assediado, quais os possíveis encaminhamentos e as questões psicossociais e jurídicas que implicam o assédio moral; todo o conteúdo foi pensado pelos profissionais do Laboratório de Psicodinâmica no Trabalho, além da Comissão de Assédio Moral e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador”, informou.

Negação

Os organizadores do evento, ao justificarem o projeto, lembraram de pesquisas de professores que são referência no Brasil na área do assédio moral, como o doutor e professor da Unicamp José Roberto Heloani. Ele defende o posicionamento de que os assediados, por medo, neguem o adoecimento psíquico e continuam expostos a situações humilhantes e constrangedoras, o que só agrava o problema, daí a importância da discussão do assunto, bem como o acesso à informação ser fundamental para mudar essa situação.

A questão também foi abordada neste primeiro dia. A professora Priscila Moreira Santana, doutoranda do Laboratório de Psicodinâmica da Ufam (Lapsi) enfatizou a negação do assédio, tanto pela vítima quanto pela instituição – pelo fato de o trabalhador não entender que está vivenciando um assédio moral ou por ter medo de perder o emprego, quanto pela instituição onde essa pessoa trabalha, que não reconhece a relação existente entre o adoecimento e o ambiente profissional, assunto que foi bastante explorado pelos participantes.

Realização

O curso está sendo realizado pela Comissão Executiva do Acordo de Cooperação Técnica para Criação de Mecanismos de Atenção, Prevenção e Combate ao Assédio Moral (Cecam), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com a Escola Superior da Magistratura do Amazonas (Esmam), e com o apoio de diversos órgãos: Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), Defensoria Pública do Amazonas (DPE-AM), Ministério Público Federal (MPF-AM), Ministério Público do Trabalho (MPT-AM), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM), Rede Nacional de Combate ao Assédio Moral, Associação dos Docentes da Ufam (Adua), Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Superior do Amazonas e Secretaria Estadual de Saúde (Susam).

Abertura

Representando o diretor da Esmam, desembargador Flávio Pascarelli, o coordenador de Cursos de Formação Inicial e Continuada da instituição, juiz Flávio Henrique Albuquerque de Freitas, destacou na abertura do evento que a Escola Superior da Magistratura do Amazonas está com uma visão de maior abertura à sociedade e aos temas de grande interesse e relevância social e que fazem parte do dia a dia de magistrados e servidores do Poder Judiciário, além dos demais profissionais do sistema de Justiça.  “O assédio moral no ambiente de trabalho é um tema de enorme relevância social e que afeta não só a saúde de quem sofre, mas de toda a sua família”, afirmou o juiz.

O vice-reitor da Ufam, professor doutor Jacob Moisés Cohen, ressaltou que todo tipo de assédio deve ser combatido, principalmente no serviço público. “Um problema que leva a consequências graves para o servidor e para o cidadão de modo geral. Leva ao adoecimento da pessoa. Nós combatemos e queremos fazer com que as pessoas tenham a consciência – tanto quem assedia, quanto quem é assediado -, sobre o problema”, declarou.

Também participou da abertura do evento o presidente do Conselho Regional de Medicina do Amazonas, José Bernardes Sobrinho. Mais de 300 pessoas se inscreveram gratuitamente no curso que continua nesta terça-feira, a partir das 15h. Este é o primeiro dos três módulos que serão oferecidos. O próximo está previsto para ser realizado em janeiro de 2019 e o terceiro, até maio do ano que vem.

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