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BRANCO MELLO: “NÃO VEJO A HORA DE VOLTAR A FAZER SHOWS”

BRANCO MELLO: “NÃO VEJO A HORA DE VOLTAR A FAZER SHOWS”
14/04/2020 14h28

Os Titãs já tiveram todo tipo de formação, já fizeram todo tipo de show, já gravaram todo tipo de variante do rock. Agora, resolveram investir na crueza de suas canções em três EPs acústicos executados por um trio. No primeiro do projeto “Titãs Trio Acústico”, lançado no início deste mês, Branco Mello, Sergio Britto e Tony Bellotto mostram novas versões para “Sonífera Ilha”, “Porque Eu Sei Que é Amor”, “Isso”, “O Pulso”, “Miséria”, “Tô Cansado”, “Querem Meu Sangue” e “Família”.

Britto toca piano ou baixo; Branco, baixo ou violão; e Tony, violão, violão de 12 cordas ou guitarra acústica. Os três se revezam nos vocais. As versões que eles apresentam nos EPs tiveram origem numa série de shows em teatros, no formato acústico.

A obra saiu junto com o clipe de “Sonífera Ilha”, vídeo recheado de estrelas da música e do cinema nacional. Branco Mello falou a este colunista sobre “Trio Acústico – EP 01”.

Tenho visto muitos anúncios de shows no formato voz e violão – que pode ser economia de custos, claro -, mas há mais coisas recentes acontecendo. Dinho Ouro Preto, por exemplo, está lançando um acústico e o Capital Inicial sai em turnê que celebra o “Acustico MTV”. Dai chega o Titãs com trilogia de acústicos. Dá para dizer que o rock criou novo gosto pelo acústico ou é só coincidência?

Branco Mello – Não vemos isso como uma onda. Quando teve uma onda de acústicos, optamos exatamente pelo contrário. O Titãs é uma banda de rock, elétrica. O Capital gravou um acústico em Nova York e até o Jota Quest saiu com uma turnê acústica, mas nós fizemos uma ópera rock. Mas daí os fãs começaram a pedir para comemorarmos os 20 anos do “Acústico MTV”. Então fizemos três shows, mais intimistas, em trio, contando histórias pro público, e fez enorme sucesso. E nunca fizemos isso de contar histórias em quase 40 anos de carreira. Acabou virando uma turnê e daí resolvemos gravar os arranjos. Tem coisas que nunca tínhamos feito. O Tony está cantando, eu tocando violáo. Era inédito, e registrarmos isso. São 3 EPs porque é o repertório do show inteiro, que tem duas horas de duração. Cantamos 25, 26 músicas, e contamos histórias. E quando aconteceu o isolamento, foi exatamente no momento em que estávamos lançando o primeiro dos três EPS. E por coincidência, todos os amigos que participaram de “Sonífera Ilha”, estavam em suas casas, tentando sintonizar seus radinhos de pilha. E estamos trabalhando em casa, o que é mais uma coisa inédita em nossas vidas: cada um em sua casa, fazendo entrevistas – como estou fazendo com você – ou conference calls, e colocando nossas coisas nas redes. Nunca aconteceu de lançarmos um trabalho sem ter contato com o público num teatro, num estádio ou onde quer que seja.

Já gravaram os outros dois EPs?

Branco Mello – Estão praticamente gravados, mas faltam ajustes, e a finalização faremos cada um na sua casa, mandando o que faltou: uma voz, um baixo, um violão. O bom é que a internet possibilita que isso possa ser feito. Está sendo um prazer gravar. E gravamos de um jeito solto, tranquilo, pegando só a essência de cada música, fazendo nossa leitura em trio. Os EPs saem ainda neste ano.

A impressão é que qualquer música do EP se encaixaria em um momento acústico de um show elétrico.

Branco Mello – A concepção não é essa, mas sim, com certeza caberiam num show elétrico. Já tínhamos experimentado isso num show que fizemos chamado Uma Noite no Teatro. A gente parava e cantava três músicas da ópera. No EP, fazemos coisas inéditas. Eu canto “Tô Cansado”, e toco violão; o Tony canta “Querem o Meu Sangue”, com guitarra; e o Britto canta “Miséria” ao piano. É como se fossem momentos solo dentro de um show de banda..

Dá para adiantar o que vai ter no volume 2?

Branco Mello – Nos próximos vão entrar músicas como “Enquanto Houver Sol”, que não estava no “Acústico MTV”, Tem “Cabeça Dinossauro”, que eu toco ao violão e, no show, conto a história dessa música.

Os shows, a partir de agora, serão todos acústicos? Porque tem show marcado em megafestival, como o João Rock.

Branco Mello – Bom, não vejo a hora de voltar para a estrada para fazer shows. Mas temos que superar esse momento que o mundo, não só nos, está vivendo. Então todas as pessoas estão sendo afetadas. Tenho muita expectativa de que isso acabe o mais rápido possível, e que se descubra, o mais rápido possível, uma saída para essa situação, para essa pandemia. Assim que passar essa onda mundial, vai ser uma coisa linda reencontrar pessoas, vê-las indo aos shows, voltando ao trabalho, abrindo as lojas. Estou louco para reencontrar o público, fazer meu trabalho, pegar um avião, viajar, fazer show. É o que fazemos há quase 40 anos. Quem sabe no lançamento do segundo EP já não estaremos fazendo tudo isso.

Acredita que isso aconteça logo?

Branco Mello – Acho que quando liberarem as pessoas, após o isolamento, é porque o pior já terá passado, então elas estarão morrendo de saudades, loucas para irem a shows. Ás pessoas não podem viver sem isso, sem shows, sem teatro, sem cinema. Isso faz parte do alimento. Pode ser que uma coisa demore um pouco mais, outra menos. De repente voltaremos mais maduros e ricos como seres humanos. Quem sabe até aconteça uma coisa boa lá na frente. É o que eu espero.

Titãs atravessou décadas e se manteve no patamar do rock nacional, mas sempre houve, nessa trajetória, uma ou outra banda se destacando no gênero, em algum momento. O problema é que muitas desapareceram logo. Hoje, como vê o cenário? Tem uma cena de rock forte despontando, apenas talentos individuais (bandas ou cantores e cantoras) ou a música que mais merece atenção atualmente está em outros gêneros?  

Branco Mello – Hoje há várias tendências. O rock mudou muito, as músicas mudaram, o mundo mudou. Com essa coisa da internet, tem muita gente boa trabalhando e fazendo coisas legais. Muita gente no rap falando coisas legais, muita molecada com muitas referências de rock dos anos 1970 até hoje. Com a internet, as pessoas se informam, conhecem a história da música. E há bandas buscando seu espaço usando exatamente a internet. Pessoalmente, gosto dessas bandas que têm referências antigas, que fazem releituras, Não citaria uma ou duas, mas tem várias que misturam, por exemplo, música brasileira com uma pegada mais rock and roll.

Como está a relação com os outros ex-Titãs? Acredita que algum deles nunca mais faria algo com o grupo?

Branco Mello – Bom, sobre não querer participar de algo, só perguntando para eles. Mas os ex-Titãs e o trio atual não são inimigos. São todos inteligentes, que respeitam a carreira que tiveram juntos, que admiram tudo o que foi feito em conjunto. E há uma admiração dos ex-Titãs também pelo caminho que os que ficaram na banda vão levando. Então não vejo motivo para alguma raiva ou sentimento ruim. Pelo contrário. Falo muito com o Nando, por telefone. Outro dia encontrei o Arnaldo e até combinamos de fazer algo juntos. Então não vejo motivo para algum atrito. Ao menos é o que eu imagino.

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