Manaus, 26/04/2024

Cultura e Entretenimento

Como memes e bobagens na internet ajudam a enfrentar a pandemia

Como memes e bobagens na internet ajudam a enfrentar a pandemia
15/03/2021 11h15

No aplicativo Clubhouse, baseado em áudios, as pessoas estão se reunindo em salas virtuais para fazer barulhos de baleia gemendo ou para participar de sessões de meditação silenciosa. Centenas de pessoas na popular plataforma de jogos Discord abriram um servidor onde apenas enviam a letra “h” um ao outro o dia todo, todos os dias. E uma nova conta do Twitter criada nesta semana mostra o mesmo clipe curto de Tony Soprano chorando em seu carro com diferentes canções tristes tocando ao fundo –e, rapidamente, conquistou milhares de seguidores. 

Após vários anos de manchetes preocupantes sobre desinformação, fraude eleitoral, bolhas de filtros, assédio online e muito mais, há lampejos de uma internet mais despreocupada –e bizarra. Às vezes, parece que voltamos a viver naquela época mais inocente, quando o Bebê Dançante enchia nossas caixas de emails, o Second Life ganhava vida própria e Rickrolling (a trolagem com a música de “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley) era uma ameaça permanente. Para essa volta, bastou uma pandemia devastadora que forçou muitos no mundo a viver suas vidas quase exclusivamente online durante grande parte do ano passado.

Porém, não se iluda: os problemas persistentes do mundo online permanecem. Um ano após o início da pandemia, vimos os dois lados, o bom e o ruim, de as pessoas passarem mais tempo online. Mulheres, pessoas não brancas e a comunidade LGBTQ continuam a enfrentar assédio de forma desproporcional nas redes. O tédio, a ansiedade e o medo durante a pandemia levaram as pessoas a teorias de conspiração perigosas como a QAnon ou infundadas crenças antivacinas.

No entanto, a mesma confiança no tempo de tela constante também deu lugar a comportamentos divertidos, criativos e peculiares online, que são testamentos de nossa necessidade de nos sentirmos conectados com os outros e nosso desejo urgente de escapismo em um momento turbulento.

“É um sinal de otimismo e da incrível flexibilidade e resiliência dos seres humanos em termos de nos mantermos saudáveis e conectados com outras pessoas”, opinou Shira Gabriel, professora de psicologia da Universidade de Buffalo. “O último ano foi muito deprimente e difícil, mas também foi muito inspirador para mim ver o ótimo trabalho que os seres humanos têm feito para encontrar maneiras de tirar o melhor proveito dessa situação difícil”.

Não faltam exemplos extravagantes ou comunidades online variadas. O Discord, que se tornou um lugar popular para se encontrar virtualmente durante a pandemia, especialmente para a geração Z, tem um servidor chamado “ChilledCow”, onde os membros estudam, falam ou fazem arte enquanto a música ambiente toca ao fundo. Ele acumulou mais de 470 mil membros desde sua criação em maio passado e ganhou um canal popular no YouTube. Outro servidor chamado “Waffle House” reuniu mais de 1.500 membros e serve como uma forma de fazer novos amigos em um ambiente de café virtual.

As pessoas agora estão colecionando arte maluca compradas em NFTs por milhões de dólares e até mesmo fazem lances para tuítes: o CEO do Twitter, Jack Dorsey, postou seu primeiro tuíte de 2006 na plataforma de negociação NFT Valuables, onde o lance mais alto atual é de US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 13,8 milhões). O furor em torno da página do Reddit WallStreet Bets e a loucura com as ações da GameStop –que tem tanto fãs como críticos– também é um produto de pessoas que buscam comunidades online. Até o Dogecoin, uma criptomoeda influenciada por memes que remonta ao período anterior ao surgimento do lado mais sombrio das mídias sociais, está de volta às notícias e ganhando força.

Na verdade, a cultura do meme está se fortalecendo. Na segunda-feira (8), as redes sociais dos EUA tiveram uma batalha entre Califórnia e Nova York pelo melhor bagel, estimulando muitos debates e memes engraçados. No dia da posse do presidente Joe Biden, uma foto do senador Bernie Sanders usando uma máscara e luvas pesadas invadiu a internet e estimulou infinitos memes por semanas, trazendo risadas muito necessárias e aprisionadas, já que o país havia passado pelo tumulto mortal no Capitólio há apenas duas semanas.

Isra Ali, professora de mídia, cultura e comunicação da Universidade de Nova York, disse que os norte-americanos foram bombardeados com “informações intensas” no ano passado e viveram grandes eventos, como a Covid-19, os protestos do movimento Black Lives Matter e a eleição presidencial dos EUA. “Todos esses fatos nos forçaram a examinar e pensar de fato sobre quem somos o tempo todo, e quem somos no relacionamento uns com os outros”, afirmou a professora.

A intensidade deixou as pessoas ansiosas por momentos de “bobeiras”, como entrar em um espaço virtual onde possam se conectar em torno de algo simples ou bobo, como fazer um barulho juntos. “Apenas sentar juntos em um ambiente online e ficar lá sem ter que pensar é um alívio”, disse Ali.

O desejo de ver o lado alegre também elevou o TikTok para o palco principal durante a pandemia. Milhões de pessoas se juntaram à plataforma para buscar refúgio nas notícias sombrias do mundo e criar sua própria moda na plataforma, de apresentações de dança a esquetes cômicos. O molho algorítmico secreto da plataforma permite que até mesmo pessoas com pouco ou nenhum seguidor se tornem virais. Nunca foi tão fácil compartilhar nossa criatividade –e nossa humanidade.

“Estamos todos em busca de conexão e comunidade”, disse a professora de psicologia Shira Gabriel. “Se todo mundo está postando uma dança engraçada do TikTok ou uma ideia divertida e você também pode participar, você se conecta a todas essas pessoas e é parte de algo maior que si mesmo”.

via CNN Brasil

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