Manaus, 26/04/2024

Mundo

Engajado nas causas ambientais desde os anos 1970, rei Charles III pode influenciar em questões sobre clima e meio ambiente

Engajado nas causas ambientais desde os anos 1970, rei Charles III pode influenciar em questões sobre clima e meio ambiente
06/05/2023 10h00

O rei Charles III, sucessor da Rainha Elizabeth II, coroado neste sábado (6), passa a assumir novas responsabilidades e compromissos como chefe de Estado do Reino Unido.

Isso implica que ele deve deixar de lado algumas funções de quando era príncipe. Entre elas, seu ativismo em causas ambientais, o que inclui a defesa da natureza, agricultura orgânica e a luta contra as mudanças climáticas.

Mas, pode ser que use seu poder de influência para que a agenda ecológica avance.

Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, explica que esse interesse de Charles III por causas ambientais surgiu porque ele era um jovem monarca que queria contribuir e mostrar sua opinião sobre determinados temas. Isso coincidiu com um período em que o tema ambiental começa a ser assunto. “Antes de a questão climática ser uma moda, uma tendência, ele já estava falando sobre isso.”

Sua primeira aparição pública para discursar sobre o assunto ocorreu há 53 anos, em 19 de fevereiro de 1970, quando lançou o Ano Europeu de Conservação no País de Gales.

Charles abordou problemas que relacionados à questão da conservação, como o crescimento populacional, a escassez de recursos, a poluição, o lixo, e propôs algumas soluções, apesar de reconhecer em outro momento que a barreira humana pode impedir que elas aconteçam.

“Um dos problemas mais básicos são as pessoas. Por mais cuidadoso que você planeje ou proponha, inevitavelmente, em algum momento, você se deparará com a natureza humana e obstáculos impenetráveis de obstinação e preconceito. São dificuldades que devem ser vistas e levadas em consideração”, diz no discurso de 1970.

Paz explica que a fala do então príncipe ocorre no contexto em que a família real – uma Monarquia Constitucional – evitava ao máximo emitir opiniões. “Ele buscou alguns temas que julgava necessário, que chamava sua atenção e que ele queria estudar e se posicionar”, acrescenta.

Em sua primeira ação relacionada a isso, em 1985, ele converteu a Home Farm, que ficava próxima à sua propriedade de Highgrove, para a produção de agricultura orgânica, a transformando em 1990 na marca Duchy Originals.

O rei Charles III também se envolveu na área ambiental por meio da Prince’s Foundation – que busca o equilíbrio, a ordem e a relação dos seres humanos com a natureza –, Sustainable Markets, – criada para acelerar a transição do setor privado a um futuro sustentável – e uma TV voltada a documentários e outras produções sobre a área ecológica – a Re:TV.

O Prince’s Rainforest Project, fundado em 2007, foi criado com o objetivo de combater o desmatamento em florestas tropicais – como no Brasil – e, como consequência, o aumento das emissões de carbono. Charles III se sensibilizou mais com o desaparecimento das florestas após um painel intergovernamental que tratava do assunto.

O então príncipe Charles e sua esposa, Duquesa da Cornualha, comemoram 21º aniversário da marca Duchy Originals, em setembro de 2013
O então príncipe Charles e sua esposa, Duquesa da Cornualha, comemoram 21º aniversário da marca de alimentos orgânicos Duchy Originals, em setembro de 2013 / Dan Kitwood -WPA Pool/Getty Images

Influenciador?

Atuando há tantos anos na causa ambiental, a expectativa é que o novo rei exerça alguma influência para essas questões. “Tem um conjunto de ambientalistas que acham que o rei Charles acaba sendo um dos principais diplomatas da questão climática”, destaca Leonardo Paz, da FGV.

Pelo status que tem, além da compreensão sobre o tema, “ele tem capacidade de entrar em certo os círculos, de falar com certas pessoas, chefes de governo, líderes de indústria”, diz.

No caso do Brasil em particular, recentemente teve uma conversa com o presidente Lula por telefone, e busca uma parceria para aprofundar as discussões sobre as questões climáticas e do meio ambiente.

Mas agora, como o rei do Reino Unido, terá que tratar do assunto de outra forma. No caso da agricultura orgânica, por exemplo, sua marca Duchy Originals passará a ser comandada do príncipe William.

Apesar disso, o seu poder de influência pode dar luz à causa e, de certa forma, colocar o assunto em pauta no governo britânico. Ele não pode “propor uma política robusta como o primeiro-ministro faria e advogar em torno disso, mas ele tem capacidade de influenciar os políticos interessados nesse tema, que vão contar com um grande aliado que é o rei”, explica Paz.

Além disso, há o peso da opinião de um rei, “ainda mais no momento em que a opinião pública via mídia social, via imprensa, cada vez mais tem a capacidade de pressionar negócios, indústrias”.

Contradições

Apesar de toda essa preocupação com o meio ambiente e diversas ações realizadas, o especialista da FGV explica que Charles III vem sofrendo com críticas, especialmente às relacionadas ao uso de helicópteros e jatos, grandes emissores de gases do efeito estufa.

“Quando divulgamos coisas como o meio ambiente, em um contexto onde tudo que fazemos tem algum impacto no ambiente, vai ter sempre alguém que vai nos criticar em relação a essa ‘suposta hipocrisia’”, lembra Paz.

No entanto, o novo rei encontrou maneiras de mitigar seus hábitos não sustentáveis, ao adotar uma pegada de carbono mais consciente. Paz destaca que Charles converteu a matriz elétrica de algumas de suas propriedades para a solar e utiliza biocombustível em seus veículos, em vez de gasolina, por exemplo.

“No final das contas não tem jeito. Ainda mais uma pessoa que vive um estilo de vida da realiza britânica, sem dúvida, vai ter uma pegada de carbono intensa”.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.