Manaus, 05/05/2024

Mundo

MESMO COM CRISES, ARGENTINA MANTÉM ÍNDICES DE EDUCAÇÃO E SAÚDE MELHORES QUE O BRASIL

MESMO COM CRISES, ARGENTINA MANTÉM ÍNDICES DE EDUCAÇÃO E SAÚDE MELHORES QUE O BRASIL
08/06/2019 18h00

A Argentina, visitada na quarta-feira (6) pelo presidente Jair Bolsonaro, vive, há tempos, um cenário econômico desalentador. A inflação foi de 47% no ano passado, corroendo o poder de compra da população e favorecendo a entrada de 2,7 milhões de pessoas a mais na linha de pobreza. O dólar, que tem forte impacto no dia a dia da economia argentina, valorizou-se 13% sobre o peso apenas no primeiro trimestre deste ano.

E os argentinos ainda têm na memória a crise aguda de 2001, a pior de sua história, quando um congelamento bancário de bilhões de dólares (o “corralito”) gerou corrida aos bancos, rebeliões populares e conflitos que deixaram dezenas de mortos.

A despeito do cenário de crises econômicas ainda mais profundas que as brasileiras, o país vizinho permanece à frente do Brasil em muitos (embora não todos) indicadores sociais importantes, em áreas como desenvolvimento humano, educação e saúde.

Banco Mundial prevê queda de 1,2% do PIB da Argentina em 2019

O que explica essa diferença social? E ela está a perigo, sob o impacto cumulativo de tantos anos de problemas econômicos?
Primeiro, vamos aos números.

IDH melhor

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pela ONU a partir de um conjunto de indicadores socioeconômicos, foi de 0,825 na Argentina em 2018, contra 0,759 no Brasil (quanto mais perto de 1 o IDH, melhor é o desenvolvimento do país).

Brasil tem pequena melhora no IDH, mas segue estagnado no 79°lugar

Segundo os parâmetros do Banco Mundial, 0,4% da população argentina vivia com até US$ 1,90 por dia em 2017. No Brasil, esse índice era de 4,8%. A expectativa de vida de um argentino ao nascer é de 76,7 anos, um ano a mais do que a dos brasileiros.

Para Marcio Bobik, professor de economia latino-americana na Faculdade de Economia e Administração da USP em Ribeirão Preto (SP), trata-se mais de um grande fracasso brasileiro do que de um êxito argentino.

“O Brasil tem um PIB maior e uma economia muito mais diversificada, mas índices muito ruins de pobreza e uma das piores distribuições de renda do planeta, o que reflete em seu IDH.”

Ele lembra, por exemplo, que o PIB per capita argentino é bem maior do que o brasileiro: o equivalente a US$ 14.402 (cerca de R$ 55,6 mil) em 2017, em comparação com US$ 9.821 (quase R$ 40 mil) no Brasil.

“Mesmo aos trancos e barrancos, a distribuição de renda argentina se manteve melhor que a nossa ao longo do tempo”, diz Bobik.

Saúde

Assim como o Brasil, a Argentina tem graves problemas sociais, muito a avançar e não figura internacionalmente entre os países de maior desenvolvimento. No entanto, ainda colhe alguns frutos de seu passado mais próspero – o país foi um rico polo exportador e entreposto comercial no século 19 e início do 20, gerando um setor agropecuário bastante produtivo e um nível relativamente alto de renda, relata Bobik. “Mas é também um país de muitas contradições e histórico de populismo.”

Da mesma forma, o Brasil ainda lida com as dificuldades decorrentes de seu tamanho continental (e discrepâncias regionais), além de seu passado escravocrata, que geraram enormes disparidades sociais e de renda.

Isso se reflete, por exemplo, em indicadores ligados à saúde.

A taxa de mortalidade infantil dos vizinhos é de 9,9 bebês a cada mil nascidos vivos, contra 13,5 entre bebês brasileiros, segundo o Pnud (Programa da ONU para o desenvolvimento).

Quase 95% da população argentina têm acesso à rede sanitária, índice parecido na área urbana e na rural. No Brasil, o índice geral é 86%, que cai para 58% na área rural (dados de 2015 da OMS e da Unicef). Menos da metade do esgoto brasileiro é tratado.

A densidade de médicos por 10 mil habitantes é extremamente alta na Argentina: 39,6 em 2017, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, é de 21,5, segundo dados de 2018.

Ao mesmo tempo, a crise argentina tem cobrado seu preço da população mais vulnerável. A incidência de subnutrição de 2015 a 2017 foi de 3,8% da população, segundo a agência de alimentos da ONU. O índice é maior do que o brasileiro (2,5%). Hoje, quase a metade das crianças argentinas está na pobreza, adverte o Unicef.

Educação

Embora o Brasil se saia melhor em atendimento escolar à primeira infância (tem uma quantidade maior de crianças de 2 e 3 anos matriculadas em creches), a Argentina tem um percentual superior de crianças matriculadas na educação básica e também de pessoas formadas em cursos superiores, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do Banco Mundial.

O Pisa, exame internacional promovido a cada três anos pela OCDE, costuma ser o melhor indicador para comparar desempenho educacional entre países, por avaliar a competência de jovens de 15 anos em Leitura, Ciências e Matemática. Mas no caso da Argentina é preciso fazer uma ressalva: como as amostras do país inteiro foram consideradas pouco confiáveis no exame de 2015 (o mais recente com resultados divulgados), foram validados apenas os resultados referentes à capital de Buenos Aires. E eles foram bastante superiores aos do Brasil.

Os jovens portenhos tiveram nota geral de 475 no Pisa, contra 401 do Brasil (para efeito comparativo, a líder do ranking, Cingapura, fez 556 pontos). Enquanto os portenhos pontuaram 456 na prova de Matemática do Pisa, os jovens brasileiros pontuaram 377.

“No Pisa anterior, de 2012, a Argentina sofreu uma queda e ficou atrás do Brasil, o que foi atribuído a um período de enfoque inadequado no ensino”, explica Claudia Costin, que foi diretora de Educação do Banco Mundial e hoje comanda o Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV Rio.

“No Pisa 2015, a amostra de Buenos Aires se mostrou confiável (ao contrário da amostra do país inteiro) e apontou avanço nas três áreas avaliadas – Leitura, Ciências e Matemática. Houve mais ênfase (na educação do país) em formação técnica, alfabetização e formação de diretores escolares. Ao final deste ano, com a divulgação dos resultados do Pisa 2018, saberemos se essa evolução é sólida e se se estendeu ao restante do país.”

Embora o Brasil se saia melhor em atendimento escolar à primeira infância (tem uma quantidade maior de crianças de 2 e 3 anos matriculadas em creches), a Argentina tem um percentual superior de crianças matriculadas na educação básica e também de pessoas formadas em cursos superiores, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do Banco Mundial.

O Pisa, exame internacional promovido a cada três anos pela OCDE, costuma ser o melhor indicador para comparar desempenho educacional entre países, por avaliar a competência de jovens de 15 anos em Leitura, Ciências e Matemática. Mas no caso da Argentina é preciso fazer uma ressalva: como as amostras do país inteiro foram consideradas pouco confiáveis no exame de 2015 (o mais recente com resultados divulgados), foram validados apenas os resultados referentes à capital de Buenos Aires. E eles foram bastante superiores aos do Brasil.

Os jovens portenhos tiveram nota geral de 475 no Pisa, contra 401 do Brasil (para efeito comparativo, a líder do ranking, Cingapura, fez 556 pontos). Enquanto os portenhos pontuaram 456 na prova de Matemática do Pisa, os jovens brasileiros pontuaram 377.

“No Pisa anterior, de 2012, a Argentina sofreu uma queda e ficou atrás do Brasil, o que foi atribuído a um período de enfoque inadequado no ensino”, explica Claudia Costin, que foi diretora de Educação do Banco Mundial e hoje comanda o Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV Rio.

“No Pisa 2015, a amostra de Buenos Aires se mostrou confiável (ao contrário da amostra do país inteiro) e apontou avanço nas três áreas avaliadas – Leitura, Ciências e Matemática. Houve mais ênfase (na educação do país) em formação técnica, alfabetização e formação de diretores escolares. Ao final deste ano, com a divulgação dos resultados do Pisa 2018, saberemos se essa evolução é sólida e se se estendeu ao restante do país.”

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.