Noiva entra em trabalho de parto minutos antes de casamento coletivo indígena no AM
11/03/2024 15h00
Uma noiva que estava a caminho de um casamento coletivo indígena entrou em trabalho de parto momentos antes do começo da cerimônia em São Gabriel da Cachoeira, interior do Amazonas, no domingo (10). O que começou como uma jornada até o altar deu lugar a uma corrida para o hospital. O sim do casal Lenilda França e João Ramos foi selado na maternidade.
Lenilda e Ramos seguiam para o Centro de Educação de Tempo Integral (Ceti) Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira onde se juntariam a outros 21 casais, quando as contrações deram sinais e eles seguiram para o hospital.
Depois de acompanhar a noiva até a unidade de saúde, Ramos contou que seguiu para a cerimônia na expectativa de manter a confirmação da união mesmo com a ausência da noiva. A realização de um casamento coletivo na cidade, segundo ele, é raro.
“Ela sentiu dor, nós fomos ao hospital e nasceu lá. Eu vim sozinho [para a cerimônia] e estava só pensando como eu vou ficar?”, disse o noivo.
Na última fileira de cadeiras, Ramos aguardava ser chamado. O assento ao lado dele, que deveria ser ocupada pela futura esposa, estava vazio. Mas, o dia estava mesmo reservado para emoções.
Na solenidade, o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça, Áldrin Rodrigues, chamou por Lenilda França e João Ramos e, ao tomar conhecimento do parto inesperado, decidiu estender a cerimônia de casamento para o hospital.
No quarto da maternidade, a pequena recém-nascida, que veio ao mundo em um parto normal, testemunhou a união dos pais. O nome dela ainda não foi escolhido.
“Quero melhoria para a vida dela, nesse dia. Dividir família com ela, e vou cuidar”, disse João após se casar com Lenilda.
Casamento coletivo
O casamento coletivo indígena em São Gabriel da Cachoeira foi o segundo realizado pelo Tribunal de Justiça do Amazonas, no município. Ao todo, 22 casais de diferentes etnias participaram da cerimônia, que faz parte de um protocolo de atendimento aos povos originários da Corte de Justiça.
A cerimônia contou com uma apresentação em dança indígena e também foi traduzida simultaneamente em diferentes línguas.
“Eu penso que é algo muito importante e impactante não só para o poder judiciário, mas para esses povos. Leva dignidade a essas pessoas. Não só a respeito da autodeterminação prevista na declaração universal dos direitos dos povos, mas também o intercâmbio cultural, linguístico e a imponência da região amazônica e seus habitantes”, disse o juiz auxiliar da Corregedoria Geral de Justiça, Áldrin Rodrigues, responsável pela cerimônia.
O diretor da Escola Judicial, desembargador Cezar Bandiera, também esteve presente durante a cerimônia e afirmou que, com a cerimônia, os indígenas constituem uma família perante o código civil.
“Assegura o acesso a benefícios que são deferidos pela União Federal, Estado e Município. Auxílios que para eles são muito importantes porque eles não tem uma renda consistente com os produtos da florestas e que colham com seu plantio. A gente tem que cuidar dessas pessoas”, afirmou o desembargador.
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