Prefeitura pinta ciclofaixa sobre pedras portuguesas da Ponta Negra de Manaus, mas volta atrás após repercussão
23/10/2023 09h30
A Prefeitura de Manaus recebeu críticas nas redes sociais após pintar, de vermelho, uma ciclofaixa sobre as pedras portuguesas do calçadão da Ponta Negra, na Zona Oeste. Depois da repercussão negativa, neste domingo (22), o Município disse, em nota, que a pintura será retirada do local.
A pintura vem repercutindo desde a noite de sábado (21). O vereador Rodrigo Guedes (Podemos) publicou um vídeo que mostra um trecho do calçadão pintado de vermelho, simulando o caminho de uma ciclofaixa.
“A Prefeitura de Manaus alucinada por tinta simplesmente pintou as pedras portuguesas da Ponta Negra”, disse, afirmando que denunciaria o caso ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM).
Na tarde deste domingo, a prefeitura disse que a pintura foi feita pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), e que o trecho faz parte de uma ciclovia ainda em construção.
“O projeto de construção de 3,6 quilômetros da ciclovia em trecho da Avenida Coronel Teixeira, Zona Oeste, segue os parâmetros definidos de forma prévia em conjunto com o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM)”, argumentou.
No entanto, segundo a prefeitura, a Seminf reavaliou e decidiu pela retirada da pintura. “A prefeitura fará a remoção e limpeza de toda a extensão de pedras que recebeu a pintura e, para dar continuidade ao projeto, irá implantar novas pedras portuguesas na cor vermelha opaca”, disse, em nota. Leia a nota completa, ao final.
Procurado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) informou que a Ponta Negra não é tombada pela instituição.
‘Grotesco’, diz pesquisador
O calçadão da Ponta Negra de Manaus é formado por pedras de calcário, de cor clara, e de basalto, de cor escura. De origem portuguesa, as pedras naturais foram colocadas no local em 2013, quando o complexo passou por uma grande revitalização.
De acordo com o pesquisador Roger Peres, por serem nobres, as pedras não deveriam receber pintura. “Pintar pedra é simplesmente grotesco. Isso não se faz em hipótese alguma”, enfatizou o historiador. “Se há necessidade de algum tipo de sinalização, coloca-se uma placa, informando”, completou.
Juntas, as pedras formam imagens sinuosas, que lembram um banzeiro, ondas dos rios. O mosaico também foi inspirado no Encontro das Águas, formado pelos rios Negro e Solimões.
Segundo a prefeitura, os desenhos lembram as praças de Lisboa, em Portugal, e são semelhantes aos que foram usados pelo paisagista e arquiteto Burle Max em obras pelo Brasil.
Além da Ponta Negra, outros espaços públicos de Manaus já receberam pedras do modelo. As primeiras foram colocadas no Largo de São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas, entre 1901 e 1905.
“No Brasil, ficaram eternizadas no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro. Em Manaus, elas só existiam na praça do Largo de São Sebastião. Depois, em 2009, foram usadas na entrada do Parque Jefferson Peres. Também foi feito um detalhe na Avenida Eduardo Ribeiro, defronte ao Ideal Clube”, detalhou Roger Peres.
Leia a nota da Prefeitura de Manaus
NOTA
A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf), esclarece, neste domingo, 22/10, que o projeto de construção de 3,6 quilômetros da ciclovia em trecho da avenida Coronel Teixeira, zona Oeste, segue os parâmetros definidos de forma prévia em conjunto com o Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM).
O corpo técnico da Seminf acompanha a execução da obra desde seu início, para garantir a viabilidade do projeto e a conclusão dentro do prazo estimado.
Mediante debate público acerca da pintura das pedras portuguesas, em etapa final da obra, a pasta considera relevante os pontos levantados pela sociedade civil e organizada e defere uma readequação do projeto inicial.
A prefeitura fará a remoção e limpeza de toda a extensão de pedras que recebeu a pintura e, para dar continuidade ao projeto, irá implantar novas pedras portuguesas na cor vermelha opaca.
A prefeitura reforça o compromisso com a opinião pública e a soberania do povo.
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