Manaus, 26/04/2024

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TURISMO PREDATÓRIO AMEAÇA PRAIA PARADISÍACA E GERAÇÃO DE RENDA DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS

TURISMO PREDATÓRIO AMEAÇA PRAIA PARADISÍACA E GERAÇÃO DE RENDA DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS
09/09/2020 15h15

A praia do Iluminado faz parte do Arquipélago de Anavilhanas. Ela fica submersa durante a maior parte do ano, e no período da estiagem ela surge, revelando uma das mais belas praias da região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro. A praia também é de grande importância para o ecossistema local, que serve de berço para a reprodução de quelônios e abriga árvores centenárias.

Porém, essa praia tem sido sido frequentada por visitantes que parecem não dar muito valor a ela.  Muitas pessoas da elite de Manaus têm ido para lá com o objetivo de realizar festas. Durante o réveillon do ano passado, houve uma grande produção, resultando em muito lixo na praia, como balões e enfeites de plástico, restos de fogueira, garrafas e outros resíduos.

Durante o feriado de 07 de setembro, não foi diferente: cerca de 20 embarcações, entre lanchas e iates, estiveram na praia. Uma grande estrutura de festa foi montada no local, onde os barcos passaram os três dias de feriado. Dessa vez, os moradores fotografaram inclusive árvores cortadas para servirem de fogueira. Essa situação tem incomodado os moradores locais, que reclamam do impacto que essas visitas têm gerado à região. 

”Além de todo esse desgaste, ainda temos que vivenciar atitudes como o desmatamento, com cortes de árvores para criação de fogueiras, sendo que aquela mata leva centenas de anos para estar daquela forma, é um absurdo, precisamos cuidar, para que não vire apenas um banco de areia sem nenhuma árvore. Nós temos uma beleza que não podemos aproveitar por causa desses banhistas, precisamos fazer alguma coisa” comentou Roberto Brito, empreendedor local de Turismo de Base Comunitária e morador da Comunidade Tumbira

“Antes a gente achava estranho, mas não era tão prejudicial porque não trabalhávamos com turismo, hoje a gente ver com outros olhos, entende que é importante usar de forma responsável, pois precisamos preservar esse paraíso natural. Com tudo isso que estamos passando nos últimos meses, é muito triste ver que nossas comunidades estão perdendo espaço para eles, que podem ir em qualquer lugar“ completou.

Essa invasão da praia, como Roberto diz, não leva em consideração a capacidade de carga do local, que é o número de visitantes, considerando os meios de transporte, que um local é capaz de receber sem gerar impacto para o meio ambiente e para a qualidade da experiência do visitante. Os moradores, que também recebem turistas, reclamam que, com a invasão, eles não se sentem à vontade de ir à praia e nem levar visitantes, atrapalhando na economia local. 

Turismo de Base Comunitária

Uma das principais fontes de renda das comunidade do baixo Rio Negro é o turismo. As comunidade têm se estruturado para receber visitantes de forma responsável, com pequenos grupos e com consciência da importância da conservação ambiental. Outro morador da região, Bruno diz que os visitantes não possuem qualquer compromisso com a conservação do local: “Quando você vê o lixo que eles deixam, o volume de som que fazem, os fogos de artifício, as árvores cortadas, dá pra perceber que eles não respeitam o lugar e nem as leis. Cansamos de limpar o lixo deles. Estamos dentro de uma área de Parque Nacional, não é lugar pra isso. E existem agências de turismo envolvidas. É preciso que elas tenham alguma responsabilidade no que fazem”.  

Empreendimento local de forma sustentável

As comunidades ribeirinhas, em sua grande maioria, vivem do turismo de base comunitária ou de atividades que estão voltadas a área, como: artesanato, restaurante e comércio em geral. 

“Se eu ofereço  a praia como atrativo por um dia para quatro turistas e envolve cinco pessoas da comunidade, já é bom para a comunidade, todo mundo ganha sua diária e não deixa o lixo na praia que eles deixam” disse Brito preocupado com o impacto desses banhistas na renda dos ribeirinhos.

Parque Nacional / Unidade de Conservação

A praia do Iluminado faz parte das água jurisdicionais do Parque Nacional de Anavilhanas, por isso, além das regras ambientais, é importante que os moradores das comunidades tenham ciência de qualquer atividade. Com o passar dos anos, cresce o número de empresários e políticos que visitam o lugar, sem ter o devido cuidado com o meio ambiente e com a Amazônia preservada. Jé é possível acompanhar o danos causados pelo turismo de forma inconsciente. 

Mobilização

A ativista ambiental do Movimento Somos Filhos da Floresta, Odenilze Ramos, disse ser inadmissível a vinda desses banhistas, que atrapalham o dia a dia dos comunitários e interferem na conservação ambiental da ilha. 

“Parece irreal, mas, no dia da Amazônia, ainda temos que presenciar a vinda de tantas lanchas, trazendo tanto lixo, fogo e desmatamento. É revoltante que não haja respeito ao território dos outros. Os moradores ficam inibidos de ir à praia enquanto eles fazem desmandos ambientais e atrapalham o sossego de quem vive aqui”, declarou. 

As comunidades entendem que é necessário cuidar da ilha, pois a praia, além de ser uma área de lazer para as comunidades e um atrativo turístico, é um berçário natural para algumas espécies de quelônios. 

“Nós precisamos cuidar do que é nosso, do que está a favor da comunidade e a favor de todo o ecossistema ambiental. A situação está ficando incontrolável, dessa vez tinha até carro, moto. Eles fazem muita poluição sonora, o que atrapalha na reprodução dos quelônios que fazem o ciclo de criação na praia” afirmou Roberto

Em agosto os comunitários abriram uma petição para proibir as festas na praia, principalmente as festas de réveillon (http://chng.it/DHg7wVQfXh). Nesta quarta-feira o Movimento Somos Filhos da Floresta encaminhou um ofício à Secretaria de Meio Ambiente do Estado pedindo fiscalização e controle da entrada deste banhistas.

“Além de degradar o meio ambiente, local em que lutamos para preservar, essa invasão é prejudicial aos empreendedores na área do Turismo, visto que as famílias vivem do comércio local. É uma falta de respeito com os comunitários” finalizou Roberto Brito

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