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CEMITÉRIO CONGELADO: AS TRISTES HISTÓRIAS DAS MORTES NA ANTÁRTIDA

18/11/2018 22h00

G1 – Mesmo com toda a tecnologia e conhecimento que temos, a Antártida pode ser extremamente perigosa para qualquer um que viaja para lá. Temperaturas podem cair para menos de -90° C. Ventos chegam a atingir 322 km/h. E o clima não é o único risco.

Muitos corpos de cientistas e exploradores que morreram ali dificilmente vão ser recuperados. Alguns acabam descobertos décadas ou séculos mais tarde. Outros podem estar perdidos para sempre, enterrados nas profundezas dos lençóis de gelo ou fendas.

As histórias por trás dessas mortes vão desde mistérios não resolvidos a acidentes esdrúxulos.

Nesta reportagem, a BBC conta o que esses eventos revelam sobre a vida na terra mais hostil do planeta. Confira.

1800: o mistério dos ossos chilenos

Na ilha de Livingston, entre as ilhas Shetland do Sul, na costa antártica, um crânio humano e um fêmur repousam perto da costa há 175 anos. São os restos humanos mais antigos já encontrados na Antártida.

Os ossos foram descobertos nos anos 1980. Pesquisadores chilenos constataram que eles pertenciam a uma mulher que morreu quando tinha cerca de 21 anos. Era uma índia do sul do Chile, a quase 1.000 km de distância.

A análise dos ossos indica que ela morreu entre 1819 e 1825. Sendo assim, seria uma das primeiras pessoas a ter estado na Antártida.

A pergunta é: como ela chegou lá? As tradicionais canoas dos índios chilenos não lhe teriam permitido fazer uma viagem tão longa por um mar que pode ficar incrivelmente agitado.

“Não há evidências de uma presença ameríndia independente nas ilhas Shetland do Sul”, diz Michael Pearson, consultor de patrimônio antártico e pesquisador independente. “Não é uma jornada que você faria em uma canoa de casca de árvore.”

A teoria original dos pesquisadores chilenos era de que a mulher estaria guiando caçadores que viajavam do Hemisfério Norte para as ilhas antártidas, descobertas pelo capitão inglês William Smith em 1819.

Mas nunca se tinha ouvido falar de mulheres participando de expedições ao extremo sul naqueles dias.

Os marinheiros realmente tinham uma relação próxima com os povos indígenas do sul do Chile, diz Melisa Salerno, arqueóloga do Conselho de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina (Conicet). Às vezes, trocavam peles de foca uns com os outros. Era de se supor, portanto, que também tivessem compartilhado conhecimento e experiências. Mas as interações das duas culturas nem sempre foram amigáveis.

“Às vezes era uma situação violenta”, diz Salerno. “Os caçadores podiam simplesmente pegar uma mulher em uma praia e depois deixá-la longe, em outra.”

A falta de registros e diários de bordo dos primeiros navios com destino ao sul da Antártica torna ainda mais difícil traçar a trajetória dessa mulher.

Sua história é única entre a primeira presença humana na Antártida. Uma mulher que, por todos os relatos usuais, não deveria estar lá – mas de alguma forma estava. Seus ossos marcam o início da atividade humana na Antártida e a inevitável perda de vidas que decorre da tentativa de ocupar esse continente inóspito.

29 de março de 1912: a equipe da ‘Expedição Terra Nova’

A equipe de exploradores britânicos comandada por Robert Falcon Scott chegou ao Polo Sul em 17 de janeiro de 1912, apenas três semanas depois de a equipe norueguesa, liderada por Roald Amundsen, ter saído do mesmo local.

A moral do grupo desmoronou quando eles descobriram que não tinham sido os primeiros a chegar. Logo depois, as coisas piorariam.

Alcançar o Polo Sul foi um feito e tanto para testar a resistência humana, e Scott estava sob enorme pressão. Além de lidar com os desafios inerentes ao clima rigoroso e a falta de recursos naturais como madeira para construção, ele tinha uma equipe de mais de 60 homens para comandar. Também sentia-se pressionado por seus colegas da Inglaterra, que depositavam nele muitas esperanças.

“Em outras palavras, é fazer (a expedição) ou morrer – esse é o espírito que os leva para a Antártida”, disse Leonard Darwin, presidente da Real Sociedade Geográfica e filho de Charles Darwin, em um discurso à época.

“O capitão Scott vai provar mais uma vez que a masculinidade da nação não está morta … o auto-respeito de toda a nação é certamente aumentado por aventuras como essa”, disse Leonard Darwin.

Scott não estava imune às expectativas. “Ele era um ser humano como qualquer outro”, diz Max Jones, historiador da Universidade de Manchester. “Em seus diários, você se depara com dúvidas e ansiedades sobre se ele estava à altura da missão e isso o torna uma figura mais atraente. Ele também colecionava fracassos e fraquezas”.

Apesar das preocupações e dúvidas, o pensamento de “fazer ou morrer” levou a equipe a assumir riscos que hoje nos causariam surpresa.

No retorno da equipe da Antártida, Edgar Evans morreu primeiro, em fevereiro. Então, Lawrence Oates. Ele se considerava um fardo para o grupo e achava que estava atrasando a viagem de volta. “Vou sair rapidamente por um tempo”, disse em 17 de março.

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